1 de dezembro de 2010

Um samba inédito para uma saudade antiga


Em meu aniversário de 16 anos, a exatos 30 anos, morria o velho e genial Angenor de Oliveira, o Cartola, que com sua imensa alma repleta de poesia, inundou o mundo com belas melodias e letras impecáveis, deixando um pouco mais leve nossa fastidigiosa existência humana.

A festa rolava frouxa, meus amigos embalados pela disco music, Bee Gees, Donna Summer, Village People e outros bichos, quando meu avô apareceu na sala e me chamou num canto, larguei as mixagens mirabolantes e fui até lá, ele disse: Cartola morreu..., sabendo da minha profunda admiração pelo ícone da Verde e Rosa. Olhei fixamente o quadro ao lado, uma paisagem noturna, toda em tons de azul, pintada por meu tio médico, que entre uma cirurgia e outra era metido a Renoir. Não titubiei, fui até o meu quarto, peguei um bolachão do Angenor e sapequei na estroboscópica Techinics, que parecia girar em rotação de angústia, "nunca mais RPM". Acho que vocês sabem o que aconteceu, levei uma vaia categórica, não importa, desloquei meu olhar pelo janelão do avarandado e fui dar com Vesper, que ainda brilhava imponente ao lado de Selene (a lua), nesse momento preciso, de total contrição, murmurei: perdoa Cartola, eles não sabem o que fazem. E depois de correr e olhar o céu, disfarçei e chorei, não haviam rosas pra me consolar, mesmo porque de nada adiantaria, elas não falam mesmo. Empunhei o microfone e bradei aos quatro cantos do velho AP tijucano: Cartola morreu, no disco tocava: "em Mangueira quando morre um poeta todos choram/vivo tranquilo em Mangueira porque, sei que alguém há de chorar quando eu morrer...". Lá no fundo da discoteca improvisada, um gaiato gritou: "quem é esse cara!" Imediatamente respondi no mesmo tom: "ainda bem que não é o seu pai!".

A festa se apagou nos trâmites oníricos da história, mas as formidáveis canções do Mestre da Mangueira estão aí, e ficarão por aí pelos séculos e séculos Amém. E é por essas e outras que quando li o excelente artigo da Marília, publicado aqui no blog, na coluna "Prosa Carioca", tive vontade de fazer um samba para registrar essa data, un samba de exaltação e saudade, e assim foi, reli mais umas 17 vezes o precioso artigo da Marília e parti sem piedade para o meu "estúdio de empregada", saindo de lá somente quando o samba estava todo alinhavado.

Como eu queria publicá-lo no blog exatamente no dia 30 de novembro, dia dos 30 anos de sua morte e dos meus 46 anos de vida, a gravação não saiu como deveria, e aqueles que sacam do negócio sabem o que eu estou falando. A correria foi grande. Faz partitura, vai na ECM, manda pra editora, fala com músicos amigos, monta imagens para o vídeo, e isto tudo sem perturbar os afazeres profissionais e domésticos deste pentatleta que vos fala.

O samba está aí, podem baixar, tocar, ouvir, e principalmente reverenciar o nosso Angenor.

Voz e violão: Mario André

Piano: Heitor Brandão

Percussão: Maurício Barbosa

Mixagem: Erik Brandão

Para realizar o download, clique no link a seguir:
[30 anos - Saravá Cartola]


Por Mario Medella

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