29 de novembro de 2010

Bossa Norte: Um disco virtual


A Paz & Música Produções lança, via internet, o segundo álbum do músico, cantor e compositor carioca Mario André, que depois do sucesso de crítica com seu álbum de estreia "Lendas Urbanas", selecionado para a edição 2008 do prêmio Tim de música, apresenta "Bossa Norte", um álbum bem mais Rio de Janeiro que o anterior, já que em "Lendas Urbanas" o músico procurou demonstrar seu ecletismo, gravando da toada à salsa, da valsa ao pop rock, da balada ao baião, do reggae ao choro de breque. O "Bossa Norte" é mais gingado, mais malemolente, trazendo como o próprio título diz, muita bossa, a começar pelo tema de abertura, a classuda "Márcia", onde percebe-se claramente a influência do velho Vina, logo depois nos deparamos com a faixa título, a crítica e irônica "Bossa Norte", ouvem-se ainda as filosóficas "Praia de Dentro" e "Uma Rosa me Falou", a delicada "Bossa Sul", a bem humorada e nostálgica "Choro de Infância" e a aclamada e esperada "Um Samba pra Tijuca", uma exaltação ao seu bairro natal. Saindo da praia da bossa, do samba e do choro, encontramos a surpreendente e emocionante "Blues Blanc", composta em homenagem ao seu amigo e parceiro Aldir Blanc. O tango "Aguapiés", que apesar do ritmo porteño e da letra em castelhano a temática é carioquíssima, a new age tupiniquim "Balada do Planeta Azul" e até o bonus track "Fado Negro", que a princípio foi feita especialmente para a cantora portuguesa Marisa, a pedido de sua gravadora, não sendo gravada foi colocada como a última faixa do álbum, em sua gravação original, feita no home studio do músico. Quanto a forma de lançamento, via internet, não é nenhuma novidade, inúmeros artistas e bandas já fazem isso há algum tempo, principalmente aqueles mais ligados a cena independente, disponibilizando gratuitamente seus discos, dando a música um caráter democrático e sem fronteiras, eliminando por completo a famigerada pirataria e os lucros astronômicos das multinacionais do disco. Este é o caso do álbum "Bossa Norte", está aí para quem quiser deleitar-se com a boa música brasileira. E como diz o próprio Mario André: "enquanto existirem bons ouvintes, existirão belas canções".

Para realizar o download do disco, clique no link a seguir:
[Bossa Norte - Mario André (2010)]

28 de novembro de 2010

Discos fresquinhos! Quem vai?

A edição 140 do Cantos da Alma Latina, traz quatro discos lançados em 2010: Ária (Djavan), Amar la Trama (Jorge Drexler), Concerto (Zeca Baleiro) e Segunda Cita (Silvio Rodriguez).

A seção "Garimpo" (um mergulho no mundo dos blogs), traz uma faixa do disco que Simone e Roberto Ribeiro gravaram em 1973, primeiro registro fonográfico dos dois artistas, pepita garimpada no blog musicariabrasil.blogspot.com. Aliás, você pode divulgar seu blog de música nesta seção, basta contactar o P & M através do e-mail blogpazemusica@gmail.com.

Lembrando sempre que o CAL tem como proposta a aproximação e a integração da produção musical brasileira com a produção musical latino americana. Ouça o programa antes de ir para o ar pela Rádio Roquette Pinto FM (94.1), domingo às 19:00.


Para realizar o download, clique no link a seguir:
[Cantos da Alma Latina nº140 - 28/11/2010]

Um Rio que pode voltar

O esplêndido disco da pianista Fernanda Canaud e do bandolinista Joel Nascimento, "Valsas Brasileiras", nos remete a um Rio de Janeiro boêmio, porém muito menos violento e sem o lucrativo mercado das drogas, um Rio com mais humanidade, mais gentileza, mais poesia, mais amor. E eu espero sinceramente que em algum momento aí pra frente, depois de solucionadas todas as convulsões sociais, morais, éticas e tantos outros ais, possamos viver um pouco do clima, do astral desse Rio tocado pelo Joel e pela Fernanda. Enquanto isso não acontece vamos curtindo esse disco, entocados em nossas "trincheiras domésticas", vendo lá fora arder a hipocrisia, a politicagem e a marginalidade, juntos com nossos carros e ônibus.

Por Mario Medella

Para realizar o download, clique no link a seguir
[Joel Nascimento & Fernanda Canaud - Valsas Brasileiras]

23 de novembro de 2010

Concerto de graças, de graça

Pela passagem do dia de "Ação de Graças", o Movimento Pacifista Corrente da Paz apresenta em seu auditório, concerto com a presença internacional da oboista Andrea Ridilla e da pianista Fernanda Canaud. No repertório o "Concerto para Oboé & Piano" de Mario Lombardo entre outros.

Andrea Ridilla é professora de oboé na Miami University de Ohaio.

Fernanda Canaud é mestre em música pela UFRJ e especialista em Radamés Gnatalli.

*Dia 25 nov. - Quinta-Feira - 19:00

*R. Senador Dantas 117 - cobertura 03 - Centro

*Info: 2240-7489

* Entrada Franca (1 kg de alimento não-perecível)

www.correntedapaz.com

20 de novembro de 2010

Desabafo na base da indiferença sensível

Não me causa mais espanto, nem angústia, nem ira e muito menos compaixão, quando assisto de camarote a ascensão cega e desgovernada de músicos, cantores e compositores, que almejando alguma fama e algum dinheiro, passam por cima de valores e princípios que pregavam e diziam acreditar piamente, sem contar a "esclerose funcional" que é produzida de forma consciente para causar o absoluto esquecimento de coisas e pessoas que habitaram seus passados recentes.

Toda ascensão tem seu limite, quando chega ao ápice começa a traçar o caminho contrário (a queda). É assim com os impérios, com as religiões e até com a geografia do planeta, por que nós, pobres fazedores de arte, amantes da beleza e mortais por excelência, estaríamos fora dessa lei de fluxo e refluxo?

Logicamente estamos falando de artistas de real valor, e em momento algum questionando talento e qualidade, mas buscando uma simplificada abordagem psicológica sobre os egos inchados, quase sempre repletos de idéias, projetos, marketings e até canções, porém, completamente vazios de consciência. E quanto maior a vaidade, o orgulho e a ambição, "maior é o tombo do tonto afinal". Graças aos deuses existe o outro lado, artistas que vão calmamente em sua caminhada, construindo uma obra consistente e substancial, que mesmo depois do decreto de sua inexistência física, ficará por aí, ecoando pelas eras.

E é por essas e outras que padeço dessa benéfica "indiferença sensível", levando muito a sério o velho dito popular um tanto modificado: "o que os ouvidos não ouvem o coração não escuta", e por isso a indiferença é sensível, porque só atua sobre aquilo que chega através dos sentidos e jamais naquilo que esteja atrelado aos sentimentos mais sublimes.

Nessas horas tenho uma imensa saudade da postura do Cartola e de tantos outros que já estão compondo a sinfonia da eternidade, falo isso sem nenhum tipo de "hipocrisia saudosista", mesmo porque, isto é um problema crônico do nosso "eguinho", com as devidas graduações, alguns se deslumbram com facilidade, outros são mais resistentes e consequentemente muito mais conscientes. Chego até a acreditar que a tão falada globalização tem influenciado de forma negativa alguns jovens talentos que já conseguiram umas poucas migalhas do disputado sucesso e se consideram o supra-ultra-hiper-mega qualquer coisa.

É como diz meu filho filósofo "Dante Picante": "quem não tem Flix não entra em Plax".


Por Mario Medella

19 de novembro de 2010

A fita de Falópio

Depois de um abraço desajeitado, saí andando para um lado e Jarbas Falópio para o outro. De repente, me voltei e disse para ele: “Quando pintar um programa legal, me dê um toque, valeu?”. Depois disso, como era de se esperar, o cara sumiu. Tentei até entrar em contato através do celular que ele deixou comigo, mas a secretária eletrônica insistia em dizer que o tal número não existia. “Como não existe? Esse foi o número que Jarbas Falópio me deu!”, contestei. Mas, tudo bem, ele devia estar confuso.

A verdade é que eu já havia desistido de reencontrá-lo quando ele reapareceu dando sinal de vida. Isso foi há duas semanas. Estava eu nos braços de Morfeu (epa!), ou melhor, dormindo, quando o meu celular tocou às duas da madrugada. Era Falópio, de orelhão, falando animadamente sem parar, como se fosse digamos, três horas da tarde. Eu estava com muito sono e não conseguia entender exatamente o que ele queria. Lembro-me que ele citava versos de Charles Bukowski ao mesmo tempo em que tentava explicar que mais do que poeta ou romancista Bukowski teria sido um grande filósofo. Logo depois já falava dos improvisos de Hermeto Pascoal e apontava Nelson Cavaquinho como o maior músico que passou pela Mangueira. Bem, eu estava com muito sono e tinha dificuldades de acompanhar um raciocínio tão eloquente.

Chegou uma hora em que eu o interpelei, pois o cara estava disposto a falar até o dia clarear. E, cá pra nós, até o dia clarear só com samba. “Mas, e aí gente fina, qual é a boa?” – perguntei. E ele respondeu na bucha: “amanhã, às 9 horas, lá na Praça Tiradentes, no bar da esquina. Foi pra isso que te liguei!”. Então tá.

Era uma sexta-feira, noite quente de verão, os pandeiros cadenciando a boemia na Pedra do Sal e outras rodas mais, e eu naquela dúvida cruel: o que eu iria fazer na Praça Tiradentes com Jarbas Falópio? “Bem, o sujeito me ligou de madrugada, extremamente eufórico, pra me colocar em tal fita. Deve ser coisa muito boa”, pensei. E, é claro, se eu não fosse jamais saberia. Então, parti para o encontro.

O bar estava cheio com suas mesas espalhadas pela calçada, todas ocupadas por casais e grupos de amigos. Pedi uma gelada e fiquei ali pelo balcão olhando o movimento ao redor. Cheguei britânicamente às 9 horas e nem sinal do cidadão. Já estava na segunda cerveja, olhando o relógio de dois em dois minutos, quando se aproximou uma dama.

- Por acaso é você que está esperando o Jarbas Falópio?

- Sim, você o conhece? Como sabe?! – perguntei com espanto.
- Calma querido, ele acabou de me ligar. Cheguei à você porque ele te descreveu muito bem.

Infelizmente, ele não poderá vir. Contratempos. Mas, conforme ele pediu, não deixarei você sozinho por um instante sequer. Claro, se você me permitir.

Chamava-se Shirley Batucada. Era bem mais alta do que eu, aquele corpão moreno, cabelos amarelos, unhas e cílios postiços. Usava botas de cowboy.

- Filho da puta - pensei. Mas, aí já era tarde.
Mesmo contrariado comecei a beber com Shirley. Ela percebeu a minha decepção, mas não deixou a peteca cair. As suas observações sobre as colegas que transitavam na calçada pra lá e pra cá eram fantásticas. Trazia uma experiência de vida que poucos têm e, sem perder o humor, transformava a miséria humana em algo salutar. De certa forma, ela era uma personagem de Bukowski em carne e osso. Após comermos ovos cozidos coloridos, fechamos a conta.

Eu havia dito que precisava ouvir uma boa música, e Shirley Batucada mais uma vez superou todas as expectativas. Levou-me pra Estudantina, que fervia com os casais rodopiando no salão ao som do grupo Chapéu de Bamba. Shirley me chamou pra dançar e eu expliquei que não sabia. “Então é hora de aprender”, disse ela ao mesmo tempo em que me arrastava para pista. Negociei: “Não sem uma cachaça”. Proposta aceita na hora. E, creio eu, aprendi a dançar. Mais do isso, a partir daquela noite comecei a entender coisas que até então eu não entendia.

E para coroar a noite carioca eis que Wilson Moreira é chamado ao palco. Agradeci aos orixás por estar ali. E cantamos juntos e emocionados “abra as asas sobre mim, oh senhora liberdade...”. A noite estava só começando e Jarbas Falópio não fazia a menor falta. Paradoxalmente eu pensava: “Esse é o cara”.

Manto Costa

[Wilson Moreira - Senhora Liberdade]

16 de novembro de 2010

O pai do rádio auriverde

Muitas pessoas já dedicaram parte de sua vida ou toda ela, à construção e desenvolvimento do Brasil. Uma delas foi Edgard Roquette-Pinto, principalmente quando percebeu profeticamente em 1922, a importância do rádio como a forma de comunicação popular e democracia cultural em nosso país.

Médico, antropólogo e educador brasileiro, nascido no Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo, em 25 de setembro de 1884, Roquette-Pinto foi o precursor da radiodifusão brasileira, sempre com o objetivo de difundir cultura e educação. Graduou-se em medicina, com especialização em medicina geral, mas logo rumou para a Antropologia, sendo nomeado professor assistente de antropologia do Museu Histórico Nacional em 1906. Conheceu então uma das figuras mais marcantes para sua biografia e para história do Brasil, o tenente-coronel Cândido Mariano da Silva Rondon.

Roquette-Pinto acompanhou Rondon em uma de suas expedições à Serra do Norte, tendo contato com os índios Nhambiquaras e pioneiramente filmando uma civilização que ainda vivia na pré-história em plena alvorada do séc.XX. Filmava e tomava apontamentos a todo instante em seus cadernos de viagem.

Nessa expedição - e em toda a sua vida - foi etnógrafo, sociólogo, geógrafo, arqueólogo, botânico, zoólogo, lingüista, farmacêutico, legista, fotógrafo, cineasta e folclorista. Com todas as experiências e anotações que trouxe na bagagem, Roquette- Pinto passou os 4 anos seguintes escrevendo um dos marcos da Etnografia brasileira, o livro "Rondônia", que o levaria posteriormente à Academia Brasileira de Letras.

Em 1922 a então rádio telefonia é mostrada ao País na exposição comemorativa do centenário da Independência do Brasil. Roquette-Pinto entusiasmou-se com os novos equipamentos que não despertava especial atenção dos freqüentadores da referida feira. Vislumbrou-lhe o futuro.


No início de 1923, convicto da importância educativo-cultural do rádio, sensibilizou com suas idéias o presidente da Academia Brasileira de Ciências e fundou, em 20 de abril daquele mesmo ano, a primeira estação de rádio no Brasil, a Sociedade Rádio do Rio de Janeiro, instituição de caráter basicamente educativo-cultural que funcionava como uma sociedade real, sobrevivendo das doações de seus sócios.

Anos depois, para não transformá-la em um veículo comercial, Roquette-Pinto preferiu doá-la ao Ministério de Educação e Cultura. Nascia assim a atual Rádio MEC. Em 1927 ingressou na Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira 17. Dois anos depois realizou as primeiras demonstrações televisuais no Brasil.

Incansável, em 1934 fundou a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro, emissora de caráter estritamente educacional atuando nos vários níveis de ensino. Em 1946 a Rádio Escola passou a se denominar Rádio Roquette-Pinto, homenageando seu fundador e idealizador, que idoso e enfermo, não concordava com a homenagem. Mesmo assim o Prefeito Henrique Dodsworth, à revelia, deu o nome de Roquette-Pinto, ainda em vida, à emissora.

Edgard Roquette-Pinto, este grande pioneiro, viria a falecer alguns anos depois, a 18 de outubro de 1954 aos setenta anos de idade. Deixando a sua marca de realizações e idealismo.


http://www.94fm.rj.gov.br/

Marvio & Thaís de volta ao Vinicius

Thaís Motta e Marvio Ciribelli Trio homenageiam Vinicius de Moraes e seus parceiros com o Show "Influência da Bossa" em nova temporada.


Além de ser nome de Rua, Vinicius de Moraes dá nome ao "Bar Vinícius" e é, indiscutivelmente, uma das mais importantes figuras da Bossa Nova que, completaria 97 anos em 2010. E é exatamente no bar de maior tradição da Bossa Nova, no Rio de Janeiro, que a cantora carioca Thaís Motta e o pianista niteroiense Marvio Ciribelli estarão apresentando uma nova temporada do show "Influência da Bossa", espetáculo que faz sucesso, há mais de dois anos. Os shows acontecerão nos dias 16, 23 e 30/NOV e 7 e 14/DEZ, sempre as Terças Feiras.


E é exatamente no "poetinha" Vinícius de Moraes e seus parceiros, que está baseado o repertório das próximas Terças Feiras, no Vinícius Bar. Serão músicas como: Minha Namorada (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes); Apelo (Baden Powell e Vinicius de Moraes); Amor em Paz (Tom Jobim e Vinicius de Moraes); Sei Lá (Toquinho e Vinicius); Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), Já era Tempo (Ary Barroso e Vinícius de Moraes), Rosa de Hiroshima (João Ricardo e Vinícius de Moraes ) e Mundo Melhor (Vinicius de Moraes e Pixinguinha).

Sempre ligada a Bossa Nova, Thaís Motta participou (em Janeiro deste ano) de um grande show em Homenagem ao aniversário de Tom Jobim na Praia de Icaraí em Niterói. Isto ao lado de Marvio Ciribelli, Marcos Valle, Chico Batera e do grupo Bossa Cuca Nova. Conhecida como "Miss Ritmo", Thaís é uma cantora cheia de ginga que, se apresentou na França (Lyon), em homenagem aos 50 anos da Bossa Nova, num grande show com mais de 25 mil pessoas assistindo, no "Terreaux République Bellecour".


Marvio Ciribelli é conhecido tanto pelo seu modo particular de tocar, compor e improvisar, quanto por sua energia durante os shows. Com 10 discos gravados por selo próprio (Mantra), Marvio teve composições lançadas na Alemanha, Inglaterra e Japão e tem várias passagens internacionais significantes, como por 4 vezes no Montreux Jazz Festival (Suiça). Seu mais novo CD foi lançado na Europa. E foi feito com o seu mais novo grupo, o internacional "OTR", que tem na sua formação, o vocalista Inglês John Lawton (ex-Uriah Heep). No Brasil, Marvio, está gravando um novo trabalho com lançamento previsto para 2011.


Serviço:


Thaís Motta e Marvio Ciribelli Trio: Homenagem a Vinicius de Moraes Com Francisco Falcon (contrabaixo) e Amaro Júnior (bateria) Local: Vinicius Bar Data: 16, 23 e 30/NOV e 7 e 14/DEZ, sempre as Terças Feiras. Hora: 22h30min End: Rua Vinicius de Moraes, 39, Ipanema, RJ Info: (21) 2523 4757 / (21) 2287 1497 Capacidade: 80 lugares Couvert: R$ 30,00 Classificação Etária: 18 anos

Breve história do Rock Brasil

O Rock Brasil no formato que conhecemos hoje surgiu em 1982 com a "Blitz", banda que na época tinha em sua formação: Lobão, Evandro Mesquita e Fernanda Abreu, entre outros. Inclusive, o nome foi sugerido pelo próprio Lobão, devido às blitzes que a galera sempre levava da polícia.

Bem, mas você pode muito bem dizer que isso é um absurdo, que antes da Blitz tivemos Raul Seixas, Mutantes e O Terço. Entre as mais significativas. Sim, concordo com você em parte. Em parte, pois considero esse movimento um "Pré-Rock Brasil", pois naquele momento a cultura não estava ligada ao rock no Brasil. O tropicalismo tomava conta, juntamente como a Bossa Nova. O que tínhamos por aqui eram ecos do que acontecia nos EUA e apenas algumas pessoas começavam a difundir essa cultura.

Também considero que a carreira dos artistas acima citados não eram completamente rock.


Raul Seixas, em 1962 , montou a banda "Os Relâmpagos do Rock", que veio a se tornar "The Panthers" e finalmente gravou como "Raulzito e os Panteras". O grupo que era influenciado por Elvis e Bossa Nova, na verdade não trilhava o caminho do Rock, com letras românticas e guitarras dedilhadas o grupo não aconteceu na época. Tanto que Raul largou a banda e se tornou produtor de artistas como: Jerry Adriani, Renato e Seus Blue Caps, Trio Ternura e Sérgio Sampaio. Só depois em 1972 ele colocou "Let Me Sing Let Me Sing" na final do Festival Internacional da Canção. Mas Raulzito sempre caminhou pelo bolero, brega e baião.

"Os Mutantes" começaram a carreira em 1966 com o nome de "Six Sided Rockers", com Rafael, Arnaldo Baptista, Rita Lee Jones e Suely. Ainda em 66, gravam um compacto com o nome de "Os Seis" e são um fracasso total. Com a saída de Suely e Rafael, a banda troca o nome para "Mutantes". Em 15 de outubro de 66, se apresentaram no programa "Pequeno Mundo", de Ronnie Von. Seguindo uma carreira pontuada pelo experimentalismo e lisergia, bem no estilo do Pink Floyd de Syd Barret, os Mutantes estavam muito mais para o Progressivo do que para o Rock. Tanto que chegaram a ser dispensados da gravadora por não ter um sentido comercial na música, já que todas duravam mais de 7 minutos, isso por volta de 1972. Com a saída de Rita Lee, a banda entrou numa troca frenética de integrantes, que no fim levou a total descaracterização da banda, decretando o seu fim.


Já "O Terço", que surgiu em 1969 e tinha Vinícius Cantuária e Flávio Venturini em sua formação, começou por um caminho do Rock n’ Roll dos anos 60, mas enveredou pelo Progressivo e teve uma brilhante carreira. Lançando em 1975 um disco considerado por muitos até hoje o melhor do Progressivo nacional: o "Criaturas da noite", "Mudança de Tempo" (1978) e "Som Mais Puro" (1982) trazem a banda em um formato mais MPB após a saída de Venturini para formar o 14 Bis. A banda continua na ativa até hoje, seu último lançamento foi um tributo a Raul Seixas.

Por estes motivos volto na questão de que em 1982 a Blitz mudou os padrões do Rock Brasil. Temos alguns precursores que ainda não tinham qualquer influência sobre o público ou a mídia. Por exemplo, em 1980, Edgar Scandurra - hoje no "Ira!" - Tinha a banda "Subúrbio", que tinha em seu repertório o futuro sucesso "Pobre Paulista". Em 1980 o "Ultraje a Rigor" já estava montado, mas não ainda com esse nome. Somente em 1983 participaram do projeto "Boca no Trombone", do Teatro Lira Paulistana, em São Paulo, seu primeiro show só com composições próprias.
Em 1981 o "Barão Vermelho" já ensaiava na casa do baixista Dé, mas ainda sem um vocalista fixo, naqueles tempos, até Léo Jaime cantou com a banda. Cazuza só entraria no final daquele ano e o disco sairia no final de 1982, já na onda do Rock Brasil. Também em 1981, o "Kid Abelha e os Abóboras Selvagens" estava montado, mas somente em 1982 a banda é convidada pela WEA para uma coletânea chamada "Rock Voador". Logo depois, em 1982, "Pintura Íntima" sai em compacto e vende 100 mil cópias. 1981 marca também o início do "Azul Limão", que só iria ter sua formação estabilizada em 1983 e depois partiria para as gravações profissionais. "Os Paralamas do Sucesso" ainda estavam em Seropédica (RJ), no campus da Universidade Rural e o baterista ainda era o Vital. Barone só entraria em 1982 e o primeiro disco só sairia em 1983, "Cinema Mudo".

Pois bem, chegamos a 1982 , um ano crucial para o nosso Rock.



Após um compacto com excelentes vendagens, o single " Você Não Soube Me Amar" , lançado em julho de 1982. Um disquinho - que trazia a faixa principal no lado A e Evandro berrando "nada, nada, nada, nada!" no lado B. Quando o clipe da música foi parar no Fantástico , então, já era tarde - o rock brasileiro já havia chegado lá. O LP " As Aventuras da Blitz" , lançado dois meses depois, já sem Lobão na bateria, pela Som Livre, uma grande gravadora na época. Com uma vendagem de mais de 100 mil discos no primeiro mês, a Blitz mostrou que o Rock Brasil tinha público e podia receber o investimento das gravadoras. A banda que tinha fortes raízes no teatro com o grupo "Asdrúbal Trouxe o Trombone", levou para sua música a dramaticidade dos palcos. Os diálogos musicas de Evandro com Márcia e Fernanda atiçavam a imaginação do público. E pelos bairros o que mais se via eram conjuntos fazendo mímicas da banda. As guitarras eram rítmicas e marcantes. Ricardo Barreto, tecladista e arranjador da banda conseguia costurar as letras grandes e por vezes sem rimas com melodias pops e contagiantes, transformando a banda no maior fenômeno da música nacional até então. Lobão lançaria o seu solo "Cena de Cinema" logo depois, mas não conseguiu nem 1/10 das vendagens da Blitz.



O "Capital Inicial" e a "Legião Urbana" estavam se formando em 1982, com o fim do "Aborto Elétrico", Dinho Ouro Preto só entraria no Capital em 1983.



Em julho de 1982, o "Camisa de Vênus", lá em Salvador, lançava seu primeiro compacto, com as músicas "Meu Primo Zé", um Punk sujo e honesto e "Controle Total", um cover do "The Clash", mas o nome da banda impedia que eles conseguissem um contrato com uma grande gravadora, o que só viria acontecer em 1984.



Em Setembro de 1982, o "Barão Vermelho" lança seu primeiro disco, que entre as músicas havia "Ponto Fraco", que somente alguns discos depois seria sucesso em uma versão ao vivo, e "Todo Amor Que Houver Nessa Vida", que só apareceu na carreira solo de Cazuza. O disco foi ignorado por crítica e público. Dos poucos comentários da época o que se podia ouvir era que o disco não era comercial.



No fim de 1982, sai "Seu Espião", o primeiro do "Kid Abelha". Junto com a formação do "Ratos de Porão" que participava da coletânea "Grito Suburbano" e o primeiro disco feito na raça do Punk Rock em 1983, o clássico e inigualável "Crucificados Pelo Sistema". Um marco na musica independente deste País, mas isso é um outro papo.



Em 1982, ainda com um nome estranho e com nove integrantes, os "Titãs do Ie Ie Ie", faziam uma releitura da MPB, mas só em 1984, com a saída de Ciro Pessoa, que a banda consegue um contrato com uma gravadora, isso já na onda do novo Rock Brasil.



A partir de 1983 , a onda do Rock Brasil já invadiu todo o País e gravadoras e programas de televisão investem pesado nos artistas nacionais.



"Radio-Atividade" , daBlitz é lançado em 1983 com embalagem luxuosa - capa dupla, encarte separado, arte detalhada, etc. O segundo LP emplacou bem mais sucessos - Betty Frígida, Weekend, Ridícula e, em especial, a gozadora A Dois Passos do Paraíso , com a célebre leitura da carta da "Mariposa apaixonada de Guadalupe".



O "Barão vermelho" já está no segundo disco "Barão Vermelho 2, que de início não consegue boas vendagens, mas foi só Ney Matogrosso regravar "Pro Dia Nascer Feliz" que a banda volta a ocupar as listas dos mais vendidos. Na distante Bahia, o "Camisa de Vênus" lança o primeiro disco de rock fora do eixo Rio/São Paulo. Os "Inocentes" colocam o Punk Brasil na linha de frente depois do evento "O começo do fim do mundo" no SESC de São Paulo, e lançam "Miséria e Fome". Lobão solta seu segundo disco " Ronaldo Foi Pra Guerra" e conquista de vez seu espaço como um dos poucos artistas solo de Rock no País.

"Os Paralamas do Sucesso" assinam com a EMI-Odeon, uma multinacional muito poderosa na época e lançam "Cinema Mudo". Que depois levaria a banda à turnês até pela América do Sul. O "Ratos de Porão" já está em Turnê pelo Brasil e marca época no Circo Voador tocando junto com "Zona-X", "Lixomania", "Inocentes", "Psykose" e "Coquetel Molotov". No sul do País, Wander Wildner entra para "Os Replicantes" e mais uma região do País aparece com um Rock de primeira. Logo vieram os "Engenheiros do Hawaii" e o "Nenhum de Nós".

O Rock se espalha no Brasil e em Belo Horizonte os irmãos Cavalera, Max e Igor decidiram chamar seus amigos de colégio Paulo Junior e Jairo para montar uma banda. Logo nasceria o "Sepultura". E os "Garotos Podres" se apresentam pela primeira vez em Santo André.

1984 vai dando continuidade a toda essa história.

1984 foi ano de Blitz 3 , último disco da primeira fase da banda. Lançado com capa em versão vermelha, branca e amarela. Músicas como Eugênio, Egotrip (envolvida em acusações de plágio de Eu Me Amo , do Ultraje A Rigor), o blues carnavalista Cresci, Mamãe Cresci, Dali de Salvador e Taxi.

O "Barão Vermelho" inova na Praça da Apoteose, no Rio, no dia 15 de Setembro de 1984, junto com a Orquestra Sinfônica Brasileira e com o coro do Teatro Municipal, fazendo um rock-concerto fenomenal e ousado. E lançam o clássico "Maior Abandonado" que alcança o primeiro lugar em praticamente todas as listas de vendas do País. O "Camisa de Vênus" consolida sua carreira com "Batalhões de Estranhos"; lá podemos encontrar "Eu não matei Joana D’arc" e "Hoje".

Ainda em 1984, "Leve Desespero" chega à rádio Fluminense do Rio de Janeiro, era o "Capital Inicial" que saía do anonimato. Lá em Brasília, a "Legião Urbana" gravava sua primeira demo. Lobão já atacava até de ator no filme "Bete Balanço" com uma trilha sonora com a nata do Rock Brasil. Lobão teve sua maior vendagem até então com o sucesso da balada "Me chama".

"O Passo do Lui" mantém "Os Paralamas do Sucesso" em alta com uma balada Reggae/Ska, com esse diferencial e João Barone ganhando todos os prêmios de melhor instrumentista do Brasil. A Cogumelo Records contrata o "Sepultura" depois de assisti-los em um festival em Belo Horizonte. Os "Titãs" acontecem no Brasil inteiro com seu primeiro disco e o Hit "Sonífera Ilha". O "Ultraje", depois de muita luta, lança "Eu me amo/ Rebelde sem causa" em um compacto simples.

O "Sepultura" não estava sozinho na vanguarda da música extrema no País. O "Dorsal Atlântica", do Rio de Janeiro, lançava "Ultimatum", um disco extremo, rápido e a mais clara vertente Trash da música nacional até então.
Chegamos a metade da década mais criativa do Rock Brasil, 1985 .

No auge do sucesso, Cazuza briga com a banda e anuncia sua saída do "Barão Vermelho". Bom para o Rock Brasil que passa a ter agora dois artistas tocando o melhor do rock em língua portuguesa. O "Barão" havia acabado de tocar no Rock In Rio, junto com o "Kid Abelha". A gravadora CBS adquiria mais um artista do Rock Brasil para seu cast, o "Capital Inicial", lançando um compacto duplo e colocando música na trilha do filme "Areias Escaldantes".

Os "Engenheiros" aparecem na coletânea "Rock Grande do Sul" e a música "Sopa de Letrinhas" acaba sendo o maior destaque do disco. O "Ira!" inicia sua carreira profissional e como o Rock Brasil vai de vento em popa, "Mudança de Comportamento" é um grande sucesso comercial.

Foi também em 1985 que a maior banda de rock do Brasil lançou seu disco de estréia: "Legião Urbana". O disco chegou a impressionante marca de 710 mil cópias vendidas. "Os Paralamas" vêm logo na cola com "Selvagem?", vendendo 500 mil. Sai também o primeiro do "Sepultura" " Bestial Devastation".

Os "Titãs" lançam "Televisão" com a produção de Lulu Santos. Já com um status de banda grande, o disco sai com vários remixes e até um vídeo, fato raro na época. Toni Belloto e Arnaldo Antunes passam 26 dias presos por porte de Heroína.

Mas 1985 era realmente o ano do "Ultraje a Rigor". O disco foi o primeiro LP de rock nacional a conseguir discos de ouro e platina. Das 11 músicas do disco, 9 foram amplamente executadas e o Ultraje quebrou recordes de público em diversas casas de shows no Brasil inteiro. O disco se chamava "Nós Vamos Invadir Sua Praia".

1986, O ano da Estabilização.

O "Camisa de Vênus" continua na vanguarda do Rock Brasil e lança o primeiro disco ao vivo do nosso Rock, "Viva". é neste ano que Marcelo Nova conhece Raul Seixas e fazem uma apresentação juntos no Rio. Ainda em 86 a banda se destaca com os sucessos "Sinca Chambord", "Deus me dê Grana" e "Só o Fim", foi o auge da carreira da banda. O "Capital Inicial" tem seu primeiro disco totalmente censurado para menores de 18 anos. Foi a maior publicidade na época e o disco vendeu muito.

Os "Engenheiros" soltam seu primeiro disco lá no sul e conquista todo o Brasil. Humberto estava largando a guitarra e se dedicando ao baixo. Já que Marcelo saíra da banda e Augusto Links era o novo membro, estabilizando a formação do grupo. O "Ira!" continua muito popular com o disco "Vivendo e não Aprendendo". Já no "Kid Abelha", Leoni deixa a banda para montar o "Heróis da Resistência", por ciúmes de Paula Toller com Léo Jaime.

Este ano foi muito significativo para Lobão, depois de mais uma vez preso, foram oito vezes no total, lança "O Rock Errou" um disco forte, político e bem próximo do Heavy Metal. Na mangueira, onde passou a ser ritmista, foi recebido com festa e rajadas de metralhadoras. Ele era o novo mascote do Comando Vermelho.

O "Sepultura" dá seguimento a sua carreira já com fama internacional e lança "Morbid Visions". Os "Titãs" dão um novo rumo ao Rock Brasil com letras polêmicas e inteligentes. E ainda com uma produção nunca antes vista no nosso Rock. 1986 foi o ano de "Cabeça Dinossauro".

1987 . O barco começa a vazar água.

O "Barão" vem com "Rock’n’Geral". Que bem mais parece uma salada do que um disco, que se perde entre baladas e batidas pops. O "Camisa de Vênus" lança o primeiro disco duplo do Rock Brasil e anuncia o fim da banda. Na contra mão da decadência o "Capital Inicial" faz a abertura dos shows do Sting no Brasil, tocando para um público total de 400 mil pessoas. E tem a carreira deslanchada com o disco "Independência".

Cazuza assina com a Polygran e lança "Só se for a Dois", um disco com os dois pés na MPB. Já os "Engenheiros" lançam seu melhor disco da década "A Revolta dos Dandis", misturando filosofia e Rock n Roll e acertando em cheio no gosto do público e desagradando a todos os críticos musicais da época.

O "Kid Abelha" vem com o dançante, pop, eletrônico, mas nada rock "Tomate". Lobão continua com seu marketing de bandido. Foi preso de novo e lançou "Vida Bandida". Que já passeava pela MPB com "Chorando no Campo" e "Girassóis da Noite". Musicas compensadas por "Vida Bandida" e "Vida Louca Vida". Além do estrondoso sucesso de "Rádio Blá". O "Nenhum de Nós" lança seu primeiro disco, tendo que vir a São Paulo para gravar.

Os "Titãs" enfiam o pé na eletrônica e conseguem até uma boa vendagem, mas deixando o rock um pouco de lado. O "Ultraje" tem sua primeira troca de integrantes, com a entrada de Serginho Serra. Eles lançam o disco "Sexo", colocam música em abertura de novela, mas o disco não vende tanto quanto o esperado.

1988 - Perto do fim da década.

O "Barão" solta "Carnaval" e nada acontece. O "Camisa de Vênus" está desfeito. E Marcelo Nova inicia sua carreira solo. O "Capital" nos dá o desprazer do disco "Você não Precisa Entender", com um pop da pior qualidade. Cazuza produz muito, devido a doença, lançando dois discos e abraçando de vez a MPB.

Os "Engenheiros" se perdem com "Ouça o que eu Digo, Não Ouça Ninguém", Humberto já se achava o messias do Rock Brasil e viajava nas letras e arranjos todos muito complicados e pouco produtivos. No "Ira!" Edgar lança o seu primeiro disco solo "Amigos Invisíveis", a banda que também coloca uma música na abertura de novela, dá sinais de brigas internas, já que o disco "Psicoacústica" não consegue nenhuma repercussão.

Quem estava roubando a cena era a "Legião Urbana" que chegou a marca de 1.110.000 cópias de "Que Pais é Esse?", que trazia um bom Rock tradicional, feito de guitarra, baixo e bateria. Os "Paralamas" entram na mistura caribenha de "Bora Bora" e deixa o nosso rock para anos mais a frente.

Surge um grande representante do Punk neste ano, com letras politizadas e com dois vocalistas cantando juntos partes diferentes da letra, a "Plebe Rude" é uma das poucas renovações para o Rock Brasil a essa altura com "O Concreto já Rachou".

Os "Titãs", não lançam nada inédito, somente "Go Back", gravado ao vivo em Mountrex. O "Uns e Outros" explode com "Carta aos Missionários" mas as vendas não acompanham e a banda fica restrita a somente essa música.

1989 A Crise dos Grandes.

O "Barão" lança um "Ao Vivo", já que não tem material para um disco novo e precisa cumprir o contrato de um disco por ano. O "Capital" vem com "Todos os Lados" um disco até que razoável mas não obtem resposta do público e vende muito pouco. A briga entre Bozo Barreti produtor e tecladista da banda com os outros integrantes, fica mais aparente.

Cazuza dá seu último suspiro gravando "Burguesia". O último dele em vida. Os "Engenheiros" viajam na maionese e vão fazer uma turnê na Rússia!!!!!! Resultado: - Nada!!!



O "Ira!" vem com o inexpressivo "Clandestino". Paula Toller fica grávida e o "Kid" pára por dois anos. Quem está em alta é o "Nenhum de Nós" que tem "Camila Camila" estourada neste ano, fazendo o disco vender 210 mil cópias. Já os "Paralamas" vão mergulhando em experimentalismos com "Big Bang", onde o destaque é a balada "Lanterna dos Afogados" e novamente nada de Rock no disco.

Os "Titãs" estão afundados em uma mistureba chamada "Õ Blèsq Blom", que ninguém consegue entender direito.

O "Ultraje" lança "Crescendo", um disco que brinca com o fim da censura. O primeiro single tem um palavrão no refrão. Musicas como "Volta Comigo" falam de temas pesados como adultério. as rádios acabaram não executando estas musicas e o disco não vendeu bem.



Por Bruno Horta

11 de novembro de 2010

Marvio Ciribelli & Sérgio Chiavazzolli

Marvio Ciribelli e Sérgio Chiavazzolli no Santo Scenarium

O pianista Marvio Ciribelli e o bandolinista Sérgio Chiavazzolli estarão se apresentando no próximo dia 12 de Novembro, Sexta Feira, a partir das 20h30min, no Santo Scenarium mostrando a criatividade do jazz em rítmos brasileiros como o baião, choro e samba.

Amigos há 20 anos, Sérgio e Marvio estarão novamente juntos no palco, tocando composições próprias, gravadas em seus discos mais recentes. Além disso, tocarão músicas de autores que admiram, como "Noites Cariocas", de Jacob do Bandolim; "Delicado", de Waldir Azevedo; "Apanhei-te Cavaquinho", de Ernesto Nazareth, "Primeiro Amor", de Patápio Silva e "Desvairada", de Garoto.

Sérgio Chiavazzolli, além de ser um exímio bandolinista, também é violonista e guitarrista e, há 10 anos, toca com Gilberto Gil, sendo hoje, seu diretor musical. Além de trabalhar com o ex-Ministro, Sérgio Chiavazzoli tocou, por muitos anos, com o "menestrel" Oswaldo Montenegro. Sérgio acompanhou os cantores Alejandro Sanz e Vanessa Rangel e fez a direção Musical do Encontro Brasil-França, na Bastilha (Paris), que reuniu artistas como Lenine, Gal Costa, Seu Jorge e Jorge Ben-Jor. Chiavazzoli, que também já dirigiu o Trio Elétrico Expresso 2222 no carnaval da Bahia, tem um CD solo que se chama "Armando Todas", uma homenagem ao bandolinista Armandinho.

Serviço

Marvio Ciribelli e Sérgio Chiavazzolli no Santo Scenarium

Data: 12/NOV, Sexta Hora: 20h30min Local: Santo Scenarium Bar e Restaurante End: Rua do Lavradio, 36 - Centro Antigo, Rio de Janeiro - RJ Reservas: (21) 3147-9007 Cartões: Todos Couvert: R$ 10,00

Marvio recebe José Staneck

O "gaitista" José Staneck será o convidado do pianista Marvio Ciribelli, no Velho Armazém, no próximo dia 11 de novembro, às 21h. A dupla estará acompanhada dos talentosos Alex Rocha (contrabaixo) e Amaro Júnior (bateria).

No show, a dupla vai tocar músicas como Insensatez (Tom e Vinícius), Trilhos Urbanos (Caetano Velloso), My Funny Valentine (Rodgers and Hart), Well you needn't (Thelonius Monk), Estamos aí (Maurício Einhorn e Durval Ferreira), Retrato em Branco e Preto (Chico Buarque), Berimbau (Baden Powell e Vinícius de Moraes), Ponteio (Edu Lobo e Capinam) e um especial arranjo da peça erudita Gymnopedie Nº1 (Erik Satie).

Misturando influências diversas, José Staneck desenvolve um estilo próprio, onde elementos da música de concerto e da música popular se fundem a serviço de uma sonoridade e expressividade marcante. O gaitista estudou harmônica com Maurício Einhorn, harmonia com Isidoro Kutno, análise com H. J. Koeullreutter e interpretação com Nailson Simões. Em 2007, obteve o título de Mestre pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

O CD solo de Staneck se chama “A Poética de Uma Harmônica Brasileira” e saiu pelo selo da Academia Brasileira de Música. Staneck está se preparando para o lançamento de seu mais novo CD ao lado do violoncelista Antônio Del Claro e do pianista Flávio Augusto – Tributo a Guerra-Peixe. Staneck participou da trilha sonora do filme “Uma vida de paixão” do cineasta Zelito Viana; "Os desafinados", de Walter Lima Jr; e do curta metragem "Nós somos um poema", de Sergio Sbragia e Beth Formaggini.

O músico foi diretor, durante 15 anos, da Musiarte – Curso Integrado de Música. Com o apoio da Fábrica de Harmônicas Hering, Staneck viabiliza um trabalho social de inclusão cultural, atendendo a comunidades carentes e projetos sociais, levando o ensino de música através da “gaitinha”, para crianças em diversos locais do Brasil.

Marvio Ciribelli é conhecido tanto pelo seu modo particular de tocar, compor e improvisar, quanto por sua energia durante os shows. Com 10 discos gravados por selo próprio (Mantra), Marvio teve composições lançadas na Alemanha, Inglaterra e Japão e tem várias passagens internacionais significantes, como por 4 vezes no Montreux Jazz Festival (Suiça). Seu mais novo CD foi lançado na Europa. E foi feito com o seu mais novo grupo, o internacional "OTR", que tem na sua formação, o vocalista Inglês John Lawton (ex-Uriah Heep). No Brasil, Marvio, está gravando um novo trabalho com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2011.

Serviço:

Marvio Ciribelli recebe José Staneck no Armazém da Música Participação Especial de: Alex Rocha (contrabaixo) e Amaro Júnior (bateria) Data: 11 de novembro, quinta-feira Horário: 21h Local: Velho Armazém Endereço: Praia de São Francisco, nº 6 Tels: (21) 2714-5424 / 2704-9547 Couvert: R$ 18,00 Classificação etária: Livre Capacidade: 80 lugares Cartões: Todos

2 de novembro de 2010

Time do P&M ganha auxílio luxuoso

O Paz & Música, a partir desta semana, tem a honra de contar com o conhecimento e a sensibilidade da pesquisadora, professora e escritora Marília Trindade Barboza, que assinará a coluna "Prosa Carioca". Escolhi esse nome, depois de observar atentamente as vigorosas inserções da pena de Marília, onde notei o que imediatamente apelidei de PPC (Prosa Popular Carioca). Um texto desprovido de intelectualices, porém, com profundo conhecimento dos temas abordados, enfim... bom de se ler, ou se preferirem no melhor carioquês, maneiríssimo.

Em verdade, sua vida e seu texto falam por si, provocando a mudez neste velho menestrel e aumentando a expectativa quanto ao primeiro artigo.

Bem-Vinda Marília!

Por Mario Medella

Marília é Formada em Letras e Direito, Mestre em Lingüística e Doutora em Ciência Política. Especialista em Cultura Popular, autora de mais de 15 livros, vários deles consagrados pela crítica especializada (biografias de Pixinguinha, Cartola, Paulo da Portela, Silas de Oliveira, Caymmi, Luperce Miranda, Carlos Cachaça etc.), de ensaios sobre localidades do Rio, como a Mangueira e os subúrbios de Madureira e Irajá, ou ainda o Vale do Rio Paraíba, berço da cultura afro-descendente no Estado do Rio. Produziu discos, documentários em vídeo e shows, dirigiu espetáculos musicais.É compositora (parceira dos violonistas João de Aquino e Daniel Júnior e dos compositores Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento, Argemiro Patrocínio, entre outros).

Nem parece: ele se foi há 3 décadas...

ANGENOR DE OLIVEIRA, o Cartola, nasceu a 11 de outubro de 1908, no Catete, mas aos 11 anos foi levado pela família para a Mangueira, onde aprendeu as artes da macumba e da malandragem ( “No meu tempo, malandro não era bandido: trabalhava pouco, gostava de beber, tocar violão e ganhar presentes das mulheres da vida”). Só que o Mano Elói, do Morro da Serrinha, estivador do cais do porto e pai-de-santo respeitado (sacerdote das religiões afro-brasileiras), freqüentador usual dos terreiros do morro da Mangueira, para lá levou um hábito que faria história no futuro: terminados os cultos religiosos, começavam as rodas de batuque e cantoria, nas quais as mesmas melodias dos “pontos” (cantos sacros) eram cantadas com letras profanas. Pois é, foi isso o que mais tarde passou a ser conhecido como samba. Cartola fundou a Mangueira e compôs sambas tão lindos que o “Brasil oficial” começou a enxergar que o talento daqueles negros da favela podia bem ultrapassar a classificação de “folclore” e ser ouvido nas salas de suas mansões. Poeta, compositor, amante da beleza e das artes, fundador da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, Cartola morreu em 30 de novembro de 1980.

Às vezes, me lembro dele. Muitas vezes. Como é que ele veria esse mundo de hoje, 30 anos após sua morte, a serem completados um dia após o meu aniversário? E ele bem que poderia estar vivo aos 101 anos - hoje não é tão difícil - que o diga Oscar Niemeyer, ainda trabalhando e indo ao comício da Dilma no Teatro Casa Grande.

Mas acho que ele, não, ele não ia gostar... Cartola era um homem íntegro, positivo, transparente, reto como uma flecha. Homem de uma só palavra. E tanto o mundo quanto as pessoas atualmente estão cada dia mais opacas e sinuosas.

Poucas vezes vi alguém com tanta certeza de suas convicções. Quando ele chegava a afirmar algo, era porque a certeza já estava instalada no seu coração. Era uma pessoa extremamente tradicional e moralista (um moralismo bem mais flexível e controvertido que o da “opus dei”). O avô de Cartola, Luís Cipriano Gomes, era o cozinheiro mais importante de cidade de Campos, situada ao norte do Rio de Janeiro. Em 1903, o mestre-cuca foi trazido com a família para a capital, para comandar a cozinha do Senador campista Nilo Peçanha que, três anos depois, foi eleito vice-presidente da República e depois alçou à presidência, onde ficou até 1910.

Aída, filha Aída, filha do cozinheiro, casou-se com o primo Sebastião. Tiveram 10 filhos, entre eles, Cartola, que lembrava da infância como sendo “o pretinho mais bem vestido de Laranjeiras.” Com a morte do avô, a numerosa família Oliveira não suportou a vida cara da Zona Sul e se mudou para a Mangueira, onde o menino de 11 anos conheceu os jovens Carlos Cachaça, Geraldo Pereira, Aluízio Dias, Maçu e cresceu com os sentidos desenvolvidos pela capoeira, a valentia e o batuque dos terreiros.

Cartola não teve filhos – era estéril – mas criou uma penca de gente, parida ou adotada pelas mulheres com quem foi casado, 25 anos com cada uma: Deolinda, dos 17 (1926) aos 42 anos(1951), a juventude inteira, até a morte dela “Desde o dia em que partiste, a saudade morou no meu peito”; e Zica, de 1955 a 1980, até sua própria morte. As duas, cada qual a seu tempo, eram mulheres excepcionais, com aquele perfil submisso de dona de casa, igual à mãe da gente. Referindo-se a elas, dizia: “eu respeito muito a minha mulher”. Respeitar, para ele, era sustentar, apresentar como esposa, agir corretamente diante delas, dar-lhes o lugar de rainha do lar. Isso não quer dizer que, por fora e quando estava sozinho, não mantivesse romances ligeiros com outras “criaturas”, mas tudo muito discreto, na surdina.

Eu não me meto com mulher direita, com mulher virgem, com mulher casada. Não tiro ninguém do caminho certo. Mas, se a mulher já tiver a vida torta, aí ela vem porque quer!”
Quando a mulher queria ir embora, cantava: “se bom pra você for, pode partir, amor; e que sejas feliz, e muito bem feliz
”.

E também era com samba que ele se zangava e ia embora: “Fácil demais fui presa, servi de pasto em sua mesa, mas fique certa que jamais terás o meu amor, porque não tens pudor”. Quando se apaixonava, distinguia a amada: “Misturada entre as pedras preciosas do mundo, com um simples olhar, a você não confundo”. Ou ficava nostálgico: “Queixo-me as rosas, que bobagem as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam, o perfume que roubam de ti, ai”.

Aos quarenta e poucos anos, entre um e outro casamento, apaixonou-se perdidamente por uma mulher que não tinha nada a ver com seus anseios de poeta. Menininha, a mulher de Carlos Cachaça, anos depois do fim do romance, descreveu: “A Donária não era mulher para o Cartola, aquilo era um escorpião” Ele acabou abandonado, doente, infeliz: “Dizem que estou desfigurado, com razão estou cansado de pedir a Deus, aos céus, enfim, um amor, onde encontrarei, Senhor?”

Deus atendeu e apareceu a Zica: “Nada mais nos interessa, sermos felizes, contentes. Só nos dois, apenas dois, eternamente”.

Por dar extremo valor à liberdade, Cartola ganhou fama de malandro. Mas, como trabalhou: foi tipógrafo, pedreiro, lavador de carro, responsável por barraca de alimentos da COFAP, contínuo do Ministério da Agricultura e, apesar de ter obra gravada por cantores consagrados desde 1929 (aos 21 anos), só conseguiu gravar o primeiro trabalho solo e ganhar algum dinheiro com música 35 anos depois, aos 66 anos de idade. Em vez de se lamentar, a partir daí, cheio de prazer, trabalhou até a véspera da morte, mesmo frágil e doente. E repetia: “como é bom não precisar dever a ninguém”.

Quando percebeu a velhice chegar e com ela a saúde falhando, cantou com resignação: “Surge a alvorada, folhas a voar, e o inverno do meu tempo começa a brotar, a minar”. Tempos mais tarde, descobriu que tinha câncer e que seu tempo de vida era curto: “Se eu pudesse brigaria, amor; se eu pudesse gritaria, amor: não vou, não quero!

Chamado de “divino” por Lúcio Rangel, amigo e respeitado pelo maestro Heitor Villa-Lobos, Cartola é o único compositor/intérprete brasileiro oriundo de favela, cuja música é avaliada com o mesmo peso de um Tom Jobim, um Chico Buarque, ou seja, os grandes da MPB. Cartola, por seu talento, ultrapassou o rótulo preconceituoso de sambista, que coloca os negros das escolas de samba em outro quadrado, com raríssimas exceções.

Cartola foi meu amigo e gostava de mim, tendo me convidado para escrever a sua biografia, que escrevi com orgulho e muito carinho. Só lamento ser tão jovem na época, pois convivi com um gênio e talvez não captasse a real dimensão do privilégio que vivia.

Interessante, a sorte me permitiu conviver ao mesmo tempo com Cartola e Carlos Drummond de Andrade, os dois contemporâneos, homens de muito siso e pouco riso, de mínimas gargalhadas, de talento incomum, de muita fé e esperança na vida. Um negro e outro branco, de extratos sociais antagônicos, formação cultural diversa, vida completamente oposta, mas cujo talento e grandeza fizeram dos dois pessoas extremamente parecidas: grandes poetas, homens gigantes, jóias preciosas desse grande tesouro que é a diversidade do povo brasileiro. Eu não trocaria esses dois encontros por nada.


Marilia Trindade Barboza
(biógrafa de Cartola, Pixinguinha, Paulo da Portela, Silas de Oliveira, entre outros.)

Black Rio


Ao visitar um velho álbum de fotografias, deparo-me com uma foto minha, em plena puberdade, calçando orgulhosamente um sapato multicolorido, três andares, confeccionado artesanalmente pelo Gomes. O cabelo era totalmente black power, a camisa e a calça caíam bem justas. Usei esse visual durante um período na minha vida, o que me valeu na escola o codinome de “Black”. Confesso que de minha parte não havia uma consciência maior sobre o movimento afro-brasileiro. Estávamos no início dos anos 70', e eu era um garoto como outro qualquer.

Procuro buscar em minha memória as minhas primeiras e verdadeiras inserções pelo chamado Black Rio. É complicado porque bebi de tudo um pouco. Mas, mergulhando lá fundo, eis que encontro o meu momento chave.

Lá pelos idos de 1979/80, houve uma noite memorável no Clube Renascença, tradicional reduto tijucano dos afro-descendentes. O auge do movimento soul e do funk dinamite de James Brown já havia ficado para trás, mas, vez por outra, os encontros aconteciam. E o Rena era um dos guardiões da causa, com os seus bailes aos domingos.

A festa bombava quando tinha uma atração especial, algo como a Banda Black Rio, trazendo o saxofonista Oberdan à frente. Aparecia gente de todos os cantos do subúrbio carioca. O baile era daqueles programas certos, não havia nada de melhor para se fazer. E houve um domingo em que apareci por lá e dei de cara com uma pequena faixa, não mais que dois metros de comprimento, sem nenhum capricho gráfico, fixada logo acima da bilheteria: “Tim Maia - Hoje”.

O cantor estava numa maré baixa. Recém-saído da irmandade racional Universo em Desencanto, a quem dedicou dois grandes discos, seu último sucesso havia sido Sossego, de 77. A divulgação pífia do show – ninguém estava sabendo – dava margem à desconfiança da galera: “é mais fácil aparecer o Papa”, dizia um, “puro caô, o cara dá beiço até no Canecão, vai aparecer aqui?”, dizia outro. Na realidade, ninguém deu muito crédito àquele anúncio mambembe lá na porta. Todos estavam mais interessados em papear, beber cerveja e azarar. Para os poucos dançarinos de plantão daquela noite, havia espaço de sobra na quadra, além do telão reproduzindo slides das antigas black nights.

O som rolava e as coisas aconteciam tanto lá dentro como lá fora, na parte externa, próximo ao bar do clube. E foi justamente essa turma do sereno que primeiramente presenciou, lá pelas 10 horas, a chegada de Tim Maia e de seus músicos, que passaram pelo bar, no meio da galera, em direção à quadra. Ninguém entendeu nada, ninguém esperava. Nem mesmo o pessoal da equipe de som. Realmente, havia uma bateria montada no palco fixo da casa, centralizado na quadra. As caixas de som eram da equipe mesmo. Além disso, nada mais havia sido providenciado. A verdade é que nem a diretoria do clube esperava o homem. Foi um corre-corre para montar teclados, pedestais e microfones. O DJ, sem muita convicção, tratou de avisar: “Aí pessoal, daqui a pouco, show com o grande Tim Maia!”.

A turma que já se preparava para ir embora mudou de planos e juntou-se aos que ainda dançavam na pista para aguardar o show. Os rodies estavam com dificuldades de montar o precário equipamento. Foi quando Tim e os músicos da banda Vitória Régia resolveram arregaçar as mangas e eles mesmos concluírem a montagem e passagem do som, tudo ao mesmo tempo.

Com Tim Maia comandando os trabalhos, os agudos e os graves aos poucos foram ficando redondos. Um acorde aqui, um vocal acolá, e Tim mandava abrir ainda mais o volume dos velhos e potentes amplificadores Marshal. E de repente deu início ao show: “Não sei porque você se foi, tantas saudades eu senti...”. Um espetáculo impagável. O síndico estava a fim de cantar e mandou ver. Desfiou todos os seus clássicos, fez vocalizações impensáveis, aprontou um medley só com músicas do Cassiano, deu uns três esporros no baterista – Quero mais marcação! Cadê o prato? Bate assim, porra (gesticulando)!

Já passava, e muito, da meia-noite e Tim ainda dava o melhor de si no palco. O público privilegiado, cantava, dançava e aplaudia. Suado, cansado e feliz, quase 1 hora da manhã, o crooner chamou o Black Rio às falas: “É isso aí rapaziada. Dançar é muito bom, confraternizar é muito bom, beijar na boca é muito bom. Mas, convém estudarmos (pausadamente). O futuro está aí pronto para nos engolir. É a única saída. E olhe lá...”. Daí ele cantou Sossego, deu um tchau, e foi embora.

Valeu Tim.

Manto Costa


p.s. Essa é uma pequena homenagem do Batuque na Cozinha ao Mês da Consciência Negra.

A graça nas teclas negras

Travando diálogos virtuais com meu diletíssimo e folclórico amigo "Durinho do Andaraí" (ex-Durinho da Foz), que de vez em quando atende pela alcunha de Jonhson Mayer, descobri a história de uma das canções mais gravadas lá pelas terras do tio Obama: Amazing Grace, muito utilizada como tema natalino.

O autor do tema, John Newton (1725-1807), tem uma história bem curiosa. Antes de se tornar um respeitável e venerável clérigo, autor de muitos hinos espetaculares, ele foi um marinheiro dissoluto que, inclusive, participou do tráfico negreiro para os EUA e América do Sul. Consta que ele, juntamente com os outros marinheiros, costumava fazer uso sexual das negras jovens embarcadas.

Sua mãe, que frequentara a Igreja Anglicana e morreu quando ele tinha 6 anos de idade, sonhava em ver o filho pastor . O pai, que era católico, mas também flertava com a fé protestante, fora marítimo mercante e iniciou o filho no gosto por trabalhos em navios.

Sua conversão começou após uma tempestade em que seu navio quase naufragou e onde viu um amigo marinheiro ser arrastado por uma onda que atingiu um compartimento do barco onde ele próprio estivera poucos segundos antes. No meio da tormenta ele teria feito um gesto de submissão e de entrega do seu destino nas mãos de Deus. De certa forma isso lembra um pouco a conversão de S. Paulo, que precisou cair do cavalo e ficar cego para certificar-se dos poderes celestiais.

Por desacatar comandantes de navios acabou prisioneiro e escravo em Serra Leoa, onde permaneceu como desaparecido por longo tempo. Tendo conseguido enviar uma carta para a Inglaterra, seu pai providenciou que um navio mercante - que percorreria toda a costa africana - o procurasse por lá, o que resultou em sua libertação.

Amazing Grace faz parte do chamado "spirituals", canções de conteúdo religioso, que desde o começo do século XX sofreu influência direta do Jazz e do Blues, ou como afirmam alguns, que o processo foi o contrário.

Lá em seus primórdios o "Spirituals", baseava suas composições na slave scale(escala escrava), que utilizava apenas sustenidos e bemóis(teclas negras do piano), hoje em dia isto certamente seria politicamente incorreto e estaria proibido, assim como acaba de ser o livro "Caçadas de Pedrinho" de Monteiro Lobato, que não pode mai ser adotado por escolas, só rindo. Se todo racismo fosse o que "impera" no alegre Sítio do Pica-Pau Amarelo, essa praga jamais teria existido no mundo.

Voltando a "Incrível Graça", cá entre nós, e que todos nos ouçam, o Godspell do Tio Sam, musicalmente falando, está anos-luz a frente do "gospéu" tupiniquim.

O Paz & Música preparou um mimo exclusivo para os seus frequentadores. Uma seleção inédita com 22 versões de Amazing Grace, Aleluia!

Por Mario Medella

1) Acappella

2) Anne Murray

3) Celine Dion

4) Christina Aguilera

5) Demis Roussos

6) Dolly Parton

7) Elvis Presley

8) Janis Joplin

9) Joan Baez & Mimi Farina

10) Johnny Cash

11) Judy Collins

12) Katherine Jenkins

13) Kelly Family

14) Louis Amstrong

15) Nana Mouskouri

16) Randy Travis

17) Santana & Jeff Beck

18) Sinead O'Connor

19) Steve Vai

20) Willie Nelson

21) Yes

22) Andre Rieu


Para realizar o download, clique no link a seguir:
[Amazing Grace Versions]