26 de setembro de 2010

Paêbirú - Uma lenda cara

Paêbirú (Peabiru), Caminho da Montanha do Sol. caminho que se estendia por mais de mil e duzentos quilômetros da costa brasileira, do Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico. O álbum brazuca lançado em 1975 por Lula Côrtes e Zé Ramalho , é uma grande miscelânea de gêneros, para não dizer uma "michórdia" sonora, podemos perceber: psicodelia , alguns elementos do jazz(improviso/perda do eixo melódico) e muito do regional nordestino. Foi um dos primeiros discos não declarados da psicodelia brasileira. O disco é hoje o vinil com maior valor comercial no mercado "brechóico seborréico" do Brasil , bem conservado, um disco da edição original vale em torno de 4 mil reais, o que sinceramente acho um estúpido exagero, quase uma excentricidade insana, muita grana e muita "lenda" para pouco conteúdo estético.

A principal inspiração dos musicos na criação do disco foi a Pedra do Ingá , situada no município de Ingá , no interior da Paraíba , que é hoje um dos monumentos arqueológicos mais significativos do mundo.

No decorrer da criação do disco, a variedade de lendas sobre Sumé (entidade mitológica na qual os indígenas acreditavam antes da colonização ), inspiraram a faixa de abertura, como diversas passagens do álbum. Outras entidades importantes da cultura afro-brasileira como Iemanjá também são citadas no disco. E este mergulho no rico aspecto cultural do Brasil, certamente é o grande mérito do disco, além de ter sido executado por excelentes músicos, como Alceu Valença e Geraldo Azevedo.

O vinil duplo, com onze faixas, não é das coisas mais agradáveis de se ouvir, o contexto não é harmônico, e sem essa de "harmonia no caos" e tantas outras desculpas e "conceitos" para tentar justificar a ausência de Música. O álbum teve prensagem única de 1.300 exemplares. Destes exemplares, em torno de 1000 se perderam em uma enchente que ocorreu em Recife em 1975. Junto com os exemplares perdidos, também foi destruída a fita máster. Se não fosse o grau de historicidade da bolacha, bem que tudo poderia ter ido. Paêbirú foi relançado no ano de 2005 em vinil e CD na Europa pelo selo Mr. Bongo. Nunca foi lançado no Brasil no formato CD. E já que ele está assurdamente fora de catálogo, vamos disponibiliza-lo aqui para que vocês façam suas próprias análises. É bom que se diga,que sou profundo admirador da obra do Zé, mas como tudo nesse mundo, nada ou ninguém pode ser absolutamente perfeito. Um pequeno parêntese para fecharmos a tampa: certa vez há muitos anos, perguntei à um grande músico amigo meu, o que era a psicodelia na música, ele olhou fixamente para a parede amarela e respondeu: "Pegue qualquer disco, ponha na picape e preste atenção. Se você tiver a impressão de que os instrumentos estão indo cada um para um lado e perceber notas aleatórias, num clima meio nom-sense, você descobriu a psicodelia, meus pêsames."


Por Mario Medella

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Travessa Jazz Nights

O Clube de Jazz e o Café Travessa abrem espaço para o jazz e a música instrumental através do projeto "Travessa Jazz Nights". Além de oferecer música com qualidade, ela apresentará o jazz em seus vários estilos, abrindo espaços para novos talentos e para lançamentos de cds, dvds e livros. [01/10/2010]

Happy Feet

Marcelo Costa (trompete e voz) , Yan Vasconcelos (contrabaixo) , Fred Natalino (teclados), Chon Yeung (voz) e Bo Hilbert (bateria)

Repertório: Standards de jazz dos anos 30 e 40: Duke Ellington, Benny Goodman, Count Basie, etc...

Couvert: R$ 10,00

[08/10/2010]

Belleville Quarteto

Pablo Passini (guitarra, violão) , Samy Erick (guitarra, violão) , Sergio Danilo (clarinete, saxofone e flauta)

Repertório: Músicas do Hot Club de France e outros clássicos de Jazz. Tributo a músicos como: Django Reinhardt, Oscar Alemán e George Barnes.

Couvert: R$ 10,00

[] [15/10/2010]

Marco Garcia Trio

Marco Garcia (guitarra) , Yuri Popoff (contrabaixo) e Bráulio Mangualdi (bateria)

Repertório: Músicas autorais de Marco Garcia e Yuri Popoff. Temas de John Scofield, Mike Stern, Charlie Mingus e standards de jazz.

Couvert: R$ 10,00

[] [22/10/2010]

Maria Bragança Trio

Maria Bragança (saxofones) , Delson Guimarães (guitarra e violão) e Sandro Duarte (contrabaixo)

Repertório: Apresenta uma mistura bem sucedida do jazz brasileiro e europeu, da música erudita e popular. Temas de Piazzolla, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Tom Jobim e Victor Assis Brasil.

Couvert: R$ 10,00


[29/10/2010]

Adriano Campagnani Trio

Adriano Campagnani (contrabaixo) , Augusto Rennó (guitarras e violões) e Hugo Soares (bateria)

Repertório: Músicas autorais de Campagnani e temas de jazz fusion (Jaco Pastorious, Weather Report, etc...

Couvert: R$ 10,00


[Reservas: (31) 3223 8092]

Bach em instrumentos antigos

Dentre as muitas virtudes que fizeram J.S. Bach uma referência para a história da música universal, está a sua imensa capacidade de transitar pelo tempo, interligando constantemente o antigo e o moderno, o passado e o presente, numa síntese que muitas vezes aponta para o futuro. Assim, com a mesma habilidade que explora os mais modernos recursos dos órgãos de seu tempo, ele vai buscar no alaúde e na viola da gamba, instrumentos então considerados "fora de moda", inspiração para pesquisar novas idéias, descobrir novos caminhos.

Outro aspecto interessantíssimo que encontramos em Bach é a sua habilidade de "arranjador". Nas transcrições de obras de outros autores, como Vivaldi, Marcelo, Telemann e Rameau, ou ainda nas várias versões dadas às suas próprias composições (um movimento de concerto que se transforma numa abertura de cantata, ou ainda, sonatas que aparecem em várias combinações instrumentais diferentes) ele revela uma profunda concepção da linguagem instrumental, sem nunca derivar para o caminho do virtuosismo ou da busca de efeitos imediatos. Para ele, a música está sempre em primeiro plano e a voz ou os mais instrumentos são os meios através dos quais ele consubstancia suas idéias.

Essa universalidade, sempre presente na obra de Bach, é o principal fator que faz dele a figura mais pesquisada, mais estudada e mais discutida do mundo musical, desde meados do século XIX. A releitura apresentada por Georgely Sárkökyt da obra de Bach para alaúde, viola de gamba e cravo, bem como do famoso coral da cantata 147, interpretada através do cravo-alaúde, da viola bastarda e do próprio alaúde, é bem o exemplo das infindáveis possibilidades de recriação que a obra de J.S. Bach propicia ao intérprete.
Por Marilia Pini
(Coordenadora dos cursos de música do Uni FIAM FAAM)

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25 de setembro de 2010

Uma pequena grande obra

Sidney Álvaro Miller Filho ( Rio de Janeiro , 18 de abril de 1945/ Rio de Janeiro, 16 de julho de 1980 )

O carioca de Santa Teresa Sidney Miller despontou como compositor no cenário musical brasileiro durante a década de 1960 , e assim como outros artistas que também estavam começando participou com algum destaque em diversos festivais de música , bastante populares nesse período. Cursou Sociologia e Economia, porém sem concluir nenhum dos cursos.

No início da carreira chegou a ser comparado com o também estreante Chico Buarque , uma vez que tinham em comum, além da timidez, a temática urbana e um especial cuidado na construção das letras. Além disso, a cantora Nara Leão , famosa por revelar novos compositores, teve grande importância na estréia dos dois - inclusive gravando, em 1967 , o disco Vento de Maio, no qual dividiam quase todo o repertório: Chico Buarque assinou 4 canções, enquanto Sidney Miller era o autor de outras cinco. O primeiro registro importante como compositor foi em 1965 no I Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior (SP), obtendo o 4º lugar com a música Queixa, composta em parceria com Paulo Thiago e Zé Keti , interpretada por Cyro Monteiro . Em 1967 pelo famoso selo Elenco de Aloísio de Oliveira lançou o primeiro disco, na qual se destaca por re-trabalhar temas populares e cantigas de roda como O Circo, Passa Passa Gavião, Marré-de-Cy e Menina da Agulha. Sidney Miller compôs juntamente com Théo de Barros , Caetano Veloso e Gilberto Gil a trilha sonora para a peça Arena conta Tiradentes , dos dramaturgos Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri . Nesse mesmo ano, ao lado de Nara Leão interpretou a música A Estrada e o Violeiro no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record (SP), conquistando o prêmio de melhor letra.

Em 1968 , também pelo selo Elenco lançou o Lp Brasil, do Guarani ao Guaraná, que contou com as participações especiais de diversos artistas como Paulinho da Viola , Gal Costa , Nara Leão , MPB-4 , Gracinha Leporace , Jards Macalé , entre outros. O maior destaque do disco ficou por conta toada Pois é, Pra Quê. A partir de então Sidney Miller intensificou a carreira na área de produção. Juntamente com Paulo Afonso Grisolli organizou no Teatro Casa Grande (RJ) o espetáculo Yes, Nós Temos Braguinha , com o compositor João de Barro . Também com Grisolli, relançou a cantora Marlene , no show Carnavália, que fez bastante sucesso. Em 1969 produziu e criou os arranjos do Lp de Nara Leão Coisas do Mundo.

Ainda em 69, ao lado de Paulo Afonso Grisolli , Tite de Lemos , Luís Carlos Maciel , Sueli Costa , Marcos Flaksmann e Marlene organizou o espetáculo Alice no País do Divino Maravilhoso , além de compor a trilha sonora do filme Os Senhores da Terra, do cineasta Paulo Thiago . Também para cinema , Sidney Miller foi o autor da trilha dos filmes Vida de Artista (1971) e Ovelha Negra (1974), ambos dirigidos por Haroldo Marinho Barbosa . Sidney Miller foi autor da trilha sonora das peças Por mares nunca dantes navegados ( 1972 ), de Orlando Miranda , na qual musicou alguns sonetos de Camões , e do espetáculo a A torre em concurso ( 1974 ), de Joaquim Manuel de Macedo . Em 1974 lançou pela Som Livre o último disco de carreira o Lp Línguas de Fogo.

Nos últimos anos de vida, Sidney Miller estava afastado do circuito comercial. Tinha planos de voltar a gravar, agora de forma independente, um LP que se chamaria Longo Circuito . Trabalhava na Funarte , quando faleceu após uma súbita parada cardíaca . A sala em que trabalhava passou a se chamar Sala Funarte Sidney Miller e foi transformada num teatro . A morte de Sidney Miller, diferente do que foi noticiado, não foi causada por suicídio . Ele sofreu de uma parada cardíaca na madrugada de 16 de julho de 1980 .

* Sidney Miller - Elenco - 1967
* Brasil, do Guarani ao Guaraná - Elenco - 1968
* Línguas de Fogo - Som Livre - 1974 * Sidney Miller - Projeto Almirante/ Funarte - 1982 (tributo)

[Dicas do Melômano] Chamber Music Society - Esperanza Spalding

O disco é uma pequena jóia, muito bem elaborado em seus arranjos, onde notas são lapidadas com minúcia e precisão, explorando-se todas as possibilidades sonoras. Chamber Music Society era o nome da orquestra comunitária, em Oregon, que a mocinha participava como primeiro violino, em sua fase adolescente. A jovem cantora, contrabaixista e professora do badalado Berklee College of Music, mescla com maestria o Jazz com elementos da chamada música "erudita" (não concordo com o termo), sem contar a brasilidade, presente na voz do nosso Bituca e na música de Tom Jobim. Um disco para ser ouvido na penumbra de uma noite morna, em ambiente calmo, confortável e aconchegante.


Por Mario Medella

Pra quem ama vinil!

Picapes com interface USB reúnem discotecagem analógica e digital. O vinyl pelo jeito nunca vai morrer. Apesar de destronado pela fita cassete nos anos 70, pelo CD nos anos 80 e 90 e nos últimos anos pelo MP3, o vinyl resiste. Depois de muitas inovações no campo do "turntablism", a arte da discotecagem ainda se sustenta em termos de vinyl. Mesmo depois do revolucionário software Final Scratch, que simula mixagens e efeitos de scratch que só podem ser feitos com discos de vinyl, tem gente que não abre mão e existe hoje um movimento de culto ao vinyl.

Para aqueles que cultuam e só compram suas músicas novas em vinyl, mas precisam também ouvir melhor seus discos em seus computadores ou iPods e também para os colecionadores, a solução para passar o vinyl para o computador é a picape USB. Através de uma simples interface USB a picape se liga ao computador e em certos casos diretamente ao iPod, quando vem com dock acoplado. Aqui vão duas dicas de modelos de picape USB. O da Stanton (Stanton T.90), mais profissa, oferece uma solução bem interessante incluindo a picape em si, um cartão de armazenamento de áudio, um pre-amp phono-to-line e um programa de gravação, tudo num só produto. Custa por volta de 400 dólares e tem um design muito bonito e moderno.

O acabamento da T.90 é de plástico, o que a faz parecer um pouco menos profissional, mas é justamente isso que a torna super leve. Não chega aos pés das novíssimas picapes Numark TTX e Vestax PDX-2300MK2 Pro, mas tem controle de rotação (33, 45 e 78RPMs), controle de pitch e também um controle para modificar digitalmente a rotação de uma música. Atrás está a porta USB, além de plugues RCA e controles de impedância e outros. Os programas que vêm com a T.90 são o Audacity (MAC e Windows) e o Cakewalk Pyro 5 (Windows). A opção mais barata é a da Urban Outfitters e custa por volta de 140 dólares. É compatível com MAC e PC e tem um software bem fácil de usar. Toca discos de 7 e 12 polegadas em rotações 33 1/3, 45 e 78 RPM. Tem o braço automático, agulha de diamante, e controles de som. O design é retrô, de madeira, com alça de metal e resina.


Fonte: bitsmag

Clara lança disco novo

A boa é a cantora Clara Sandroni que lança o CD "Gota Pura", dia 04 de outubro, na Modern Sound, com o pianista Paulo Malaguti. Simplicidade e profundidade se encontram no novo trabalho da cantora, que sai pela Biscoito Fino. Ainda há algo de novo no jeito de cantar, no toque do piano, e também na música que dá título ao CD "Gota pura", *tirado da primeira frase da música "Laser" de José Miguel Wisnik e Ricardo Breim. Ou, no "Quase" de Luiz Tatit (gravada também no álbum "Cassiopéia", de 2007, com Clara ao violão) e, na regravação de "Ladeira da memória" de Zé Carlos Ribeiro, que faz parte do repertório de seu primeiro álbum, "Clara Sandroni".



*Show Clara Sandroni:*

*Dia 4 de outubro, segunda-feira, às 19h*

*Local: Modern Sound *

*Endereço: Rua Barata Ribeiro, 502 D, Copacabana*

*Reservas: 2548-5005*

18 de setembro de 2010

O Outro Pai do Rádio Auriverde

Ademar da Silva Casé, conhecido como Ademar Casé, nasceu na cidade de Belo Jardim, Pernambuco, em 09 de Novembro de 1902, filho de João Francisco Casé e Rita Leopoldina Casé.

Cinco anos depois, questões políticas os obrigaram a fugir da cidade. João Francisco havia feito campanha pra um compadre que concorria à prefeitura. Os votos não eram secretos e quem venceu foi o outro candidato.

Naquela época era comum esse tipo de perseguição. Política era questão de vida ou morte. Um dia anterior à fuga, outro compadre dele havia sido assassinado. Através de um amigo da família, João Casé ficou sabendo que quatro homens estavam prontos para assassiná-lo, antes que a noite terminasse.
O tempo passou e João Francisco recebeu a notícia de que a situação em Belo Jardim estava novamente a seu favor. Seu compadre era finalmente o novo prefeito, o que foi determinante para o seu retorno a Pernambuco. No entanto, por pressão de parentes e até mesmo de sua esposa, a nova morada seria em outra cidade, Caruaru.

Um imenso desafio esperava Ademar e sua família naquele novo lugar. Uma epidemia mundial também atingiu a cidade. A gripe espanhola expandiu-se de uma maneira que em todas as residências alguém estava com o vírus. No lar de Ademar não foi diferente. Todos na casa dele ficaram doentes, exceto sua mãe. O pai, João Francisco estava muito mal, não resistiu e morreu.

Em busca de melhores condições de vida e trabalho, Ademar, com apenas 17 anos, foi para Recife. As economias acabaram e o emprego não surgia. Casé dormia nas praças e passava fome.

Através de um amigo de Caruaru, Ademar conseguiu um emprego no “Bilhares Recreio”, no mais famoso e aristocrático salão de bilhar da Capital. Seu trabalho era varrer, arrumar o salão e organizar as mesas de bilhar.

Foi no Recreio que Ademar conheceu o capitão Rogaciano de Mello. Aproveitando a oportunidade, Casé falou do seu interesse em ingressar na carreira militar. Não demorou muito e ele já estava alistado no 21º Batalhão de Caçadores. Dias depois, Casé chegava ao Rio de Janeiro com o grupamento militar.

Era 1922 e o Rio de Janeiro fervia. O país estava vivendo um intenso clima político com a sucessão presidencial. O presidente Epitácio Pessoa elegeu o seu sucessor Arthur Bernardes, o que provocou revoltas e protestos em vários estados. O agrupamento militar, com o qual Ademar saiu de Recife, foi direcionado para a Vila Militar, primeiro regimento de Infantaria, um dos focos de oposição ao então novo presidente Arthur Bernardes.

Involuntariamente, Ademar Casé entrou em combate. Na Vila Militar, diferentemente do que ocorreu no Forte, a revolta foi rapidamente abafada. Os envolvidos foram presos e reenviados para outros estados. Ademar foi preso e levado para São Paulo e, depois, transferido para a cidade de Rio Claro, ficando na Segunda Companhia de Metralhadoras Pesadas.

Dois meses depois, Casé foi posto em liberdade e embarcou em navio de volta a Pernambuco, mas o seu desejo de vencer na vida, de retornar a capital do país e “tentar a sorte na cidade grande” era cada vez maior. Fez alguns “bicos”, juntou algumas economias e embarcou novamente para o Rio de Janeiro.

Após uma longa procura de emprego, Casé conseguiu trabalho no Café Mourisco, um varejo de frutas. Lá, conheceu um argentino que o convidou para trabalhar numa Distribuidora de frutas argentinas no Brasil. Permaneceu nesse emprego até o fim da Câmara de Comércio Brasil-Argentina que foi decretado pelo governo.

Em seguida, Casé trabalhou como corretor de imóveis, vendendo terrenos de um loteamento paradisíaco apresentado em plantas belíssimas. O que Ademar e seus clientes não sabiam era que tudo não passava de uma farsa. Certo dia acompanhando um grupo de clientes numa visita ao loteamento, Casé e todos os clientes se decepcionaram. O lugar era terrível. Não tinha nada do que era apresentado no projeto e, para completar, um dos visitantes foi picado por uma cobra.

Novamente desempregado, Casé tornou-se agenciador de anúncios para a revista Don Quixote e outras publicações como o Careta, Revista da Semana, Fon-Fon, Para Todos, Cena Muda e O Malho. Como o dinheiro era pouco, decidiu que precisava de mais um emprego e começou a ser vendedor de receptores Phillips.

Com a lista telefônica na mão, Casé buscava nomes e endereços de possíveis clientes. A tática era visitar as casas durante os dias úteis. Ele esperava o dono da sair para trabalhar e só então tocava a campanhia.

O segredo consistia em pedir para falar com o proprietário da casa chamando-o pelo nome como se realmente o conhecesse. Em seguida, falava para a esposa que tinha informações que o marido estava interessado em adquirir um rádio. E como a esposa nunca estava sabendo do assunto, e seria impossível saber, ele deixava o aparelho ligado e sintonizado na PRAA Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a melhor da época.

Quando voltava, três dias depois, a família já estava encantada pela novidade. Muitas vezes, ainda contra a vontade, o dono terminava comprando o aparelho. As vendas eram impressionantes e o diretor comercial da Philips do Brasil quis conhecer pessoalmente esse vendedor que chegava a levar 30 aparelhos no carro, vendia todos e voltava com um pedido de mais 27.

Aproveitando os contatos e a sua fama como grande profissional dentro da Phillips, Ademar sugeriu a Vitoriano Borges, um dos diretores, o aluguel de um horário. Explicou que essa nova experiência seria ainda melhor e mais dinâmico do que o “Esplêndido Programa,” programa de maior sucesso na época transmitido pela Rádio Mayrink Veiga.

Domingo 14 de fevereiro de 1932, oito horas da noite, nasceu o programa do Casé que foi batizado em pleno ar. Ademar não havia pensado em um nome para o programa e coube ao Diretor da Rádio Phillips Dr. Augusto Vitoriano Borges improvisar: "A rádio Phillips do Brasil, PRAX, vai começar a irradiar o Programa Casé".

Foi com essa frase que o diretor da Rádio Phillips, Dr. Augusto Vitoriano Borges, batizou o programa que Ademar estreava e que até então não tinha nome, detalhe que foi corrigido no ar com o improvisado “Programa Cas锝. Nascia, então, o programa que mudaria para sempre a história do rádio brasileiro.

Era o primeiro domingo após o carnaval, dia 14 de fevereiro de 1932, oito horas da noite. Casé havia alugado o horário das oito até meia noite, por 60 mil reis por programa.

Para conseguir realizar um programa dinâmico, inovador e principalmente com audiência, Casé precisava de alguém que conhecesse os famosos artistas da época. O contratado foi Sílvio Salema que, além de ser um conhecido cantor da época, era parente de Graziela, esposa de Ademar.

O primeiro programa já foi realizado com grandes nomes, entre eles, Sílvio Salema, Nonô, Luís Barbosa, Mário de Azevedo, João Petra de Barros. A Orquestra de Cordas, com a regência do maestro Romeu Ghipsmann e outros conjuntos embalaram a estréia de Casé, que foi considerada um sucesso.

No início, o programa era dividido em dois horários. O primeiro destinava-se a música popular e o outro a música erudita. Com apenas um programa algo ficou evidente, a música popular era muito mais ouvida. Os telefones não paravam de tocar durante as apresentações dos grandes nomes da época. Casé precisava de audiência e se viu obrigado a retirar a parte erudita, dedicando-se apenas a música popular.

Antônio Nássara e Cristóvão Alencar passaram a fazer parte da equipe de Casé. Os programas foram ficando cada vez melhores, nos moldes da BBC de Londres e da norte-americana NBC.

Ademar Introduziu um dinamismo jamais visto nos programas de rádio no Brasil. Era o fim do amadorismo e o início de programas bem produzidos.

Era costume, no Brasil, abandonar o ouvinte, enquanto se afinava um instrumento ou se resolvia algo. O microfone era sempre desligado nesses intervalos. Casé era um assíduo ouvinte das rádios americanas nas quais, independente do que acontecesse, a música não parava, o ouvinte deixava-se envolver por um ritmo sincronizado que parecia não ter fim. Desse modo, Casé introduziu o BG, (Background), uma música de fundo durante os intervalos entre as apresentações do Programa, recurso absolutamente imprescindível nos dias atuais.

O Programa Casé, com pouco tempo de existência, era o mais ouvido do Rio de Janeiro. Era no microfone de Casé que passavam os maiores artistas da época. Cantar no Casé era motivo de orgulho para todos, principalmente para aqueles que estavam iniciando suas carreiras.

Foi Ademar o primeiro profissional de rádio a valorizar os artistas, o respeito não se dava apenas na sua forma de saber conduzir e reunir suas estrelas, mas, sobretudo, com relação aos bons cachês que eram pagos a todos que passassem pelo Programa, o que resultava em audiência e conseqüentemente em anunciantes.

Cantar no Casé era ser exclusivo do Programa, o que consistia em ter o compromisso de passar domingos inteiros no estúdio, esperando a hora de sua apresentação. Era necessário que todos permanecessem na emissora, afinal, a qualquer momento, poderiam ser chamados ao microfone. Microfone que, por sinal, era um terror para Ademar que o admirava a distância. Casé nunca gostou de falar em microfones.

Era o começo da popularização do rádio que, durante muito tempo, serviu como símbolo de status, tocando apenas óperas e músicas clássicas. A população se identificava com os astros e com as populares canções que eram tocadas no Programa do Casé. O teatro e o humor foram também dois grandes trunfos nas programações de Ademar.

Entre as dezenas de estrelas que participavam do Casé, estavam Francisco Alves, Noel Rosa, Aurora e Carmen Miranda, Orlando Silva, Zezé Fonseca, Sílvio Caldas, Marília Batista, Pixinguinha, entre outros. Uma das artistas mais queridas de Ademar era A “Pequena Notável”, Carmen Miranda. Antes de entrar para o rádio, Casé já era fã da cantora que fazia parte do grupo de “estrelas” do seu programa.

Se até então Ademar havia revolucionado o rádio no país, foi na publicidade que Casé fez história, com uma equipe fantástica de redatores da qual participaram Cristovão Alencar, Paulo Roberto, Henrique Pongetti, Orestes Barbosa, Luiz Peixoto e Nássara. Foi Nássara que compôs para um cliente do Casé, o jingle da Padaria Bragança, primeiro da publicidade brasileira.

Casé contava, ainda, com o trabalho excepcional de Almirante, dotado de uma polivalência pouco vista, ele era o "braço direito de Casé". Dono de um grande espirito empresarial, cuidava do setor financeiro, era speaker e também era um grande humorista e contava piadas no programa.

O programa Casé foi a verdadeira escola intinerante de rádio no país. Da rádio Phillips, o programa transferiu-se para a Sociedade do Rio de Janeiro. Em seguida, ingressou na Rádio Transmissora PRE-3 que foi vendida para o Grupo do jornal O Globo. Depois de uma breve passagem pela Rádio Cajuti, Casé foi para a Rádio Mayrink Veiga PR9-E, onde permaneceu durante sete anos. Da Mayrink passou-se para a Rádio Globo, chegando, finalmente, na PRG-3, Rádio Tupi do Rio de Janeiro.

Foi na Mayrink Veiga que o Programa Casé tornou-se ainda mais marcante com uma exploração ainda maior do humor e da teatralização com as radionovelas. Uma grande paixão de Ademar, que no inicio não obteve boas respostas do público, foi a música clássica, mas a insistência e a criatividade de Casé foram responsáveis pela popularização do clássico.

O programa “Teatro Imaginário” transmitia para os ouvintes óperas inteiras, dando a impressão de que era ao vivo, diretamente do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

O rádio vivia o seu apogeu, os cantores de rádio recebiam da imprensa e do público da época um tratamento de grandes estrelas. O programa do Casé era a melhor e a mais popular diversão radiofônica dessa época. Jingles, reclames, e anúncios fantásticos e criativos marcaram o Casé. Famosas radionovelas, excelentes humoristas e cantores eram os atrativos desse programa que atravessou quase duas décadas se superando.

Casé estava na Rádio Tupi quando a Televisão chegou ao país. Era 1951 quando o Programa Casé encerravva sua história, mas Casé já estava se preparando para outras inovações. Montou uma agência de propaganda e foi trabalhar na TV, onde produziu vários programas entre eles, Convite à Música, Show Cássio Muniz, Show Regina, Tele-Semana, Petit Ballet. Mas foi o Programa Noite de Gala que imprimiu o ritmo da televisão que temos hoje, a melhor produção de TV de Ademar que, novamente, tinha uma grande equipe ao seu lado, dentre os quais Carlos Thiré, Sérgio Provenzano, Sérgio Porto e ainda o seu filho Geraldo Casé.

Em 1960, após sofrer um enfarte, Casé abandonou os meios de comunicação, por recomendações médicas, o que não o impediu de abrir outra Agência de Publicidade, Agência Casé, que foi entregue, anos depois, ao seu filho Maurício Casé.

No dia 07 de abril de 1993, aos 90 anos de idade, a história do rádio e da TV, morreu Ademar Casé um dos seus mais importantes e inovadores personagens.

Morre um dos Pioneiros dos Toca-Discos

Esta notícia pega mais uma vez a comunidade amante da Disco/Dance Music de surpresa... Na manhã do domingo, 08.ago, faleceu aos 58 anos o DJ Dom Lula. Luiz Carlos Freitas de Souza, ou "Dom Lula" como é conhecido entre os DJs, sofreu um AVC e faleceu em seu apartamento em São Paulo.

Carioca de Copacabana com know how de 34 anos na noite, inaugurou as melhores casas noturnas do eixo Rio/São Paulo com passagem por Nova York e Grécia.

Em 1976 tocou na boate "NEW JIRAU" no Rio de Janeiro. Ainda neste mesmo ano fez a reinauguração de uma outra badalada boate. A "LE BATEAU".

Dois anos depois tocou na primeira discoteca do Brasil, a "NEW YORK CITY" num momento em que a Disco Music fervilhava nas principais capitais de todo planeta. Neste mesmo ano ganhou o "DISCO DE OURO" como "O MELHOR DIVULGADOR DA MÚSICA INTERNACIONAL NO BRASIL" entregue aos 12 melhores DJs pela WARNER BROTHERS.

Em 1979 teve uma grande surpresa. Ganhou novamente o mesmo prêmio, só que desta vez entregue pela gravadora Polygram. Devido a sua competência epor estes dois prêmios consecutivos foi convidado para ir à Nova York e fazer a inauguração da boate "IPANEMA", dando uma canja de três noites na inesquecível DISCO "STUDIO 54" também em Nova York.

Com saudades do público brasileiro, em 1981 voltou para o Brasil, mais precisamente para a cidade de São Paulo, onde fez a inauguração do "Regine's", ficando lá durante um ano.

Em 1982, foi para a Grécia a convite de um brasileiro e inaugurou a disco "MAHATHAN CLUB" onde permaneceu como DJ residente durante um ano. Em 1983, voltou para São Paulo e inaugurou a discoteca "DANCING" se tornando residente 2 anos depois da "TAMATETE ". Em 1988 foi convidado para tocar na maior casa noturna da América Latina, uma das que mais agitaram a noite paulistana na época: a "UP & DOWN" com capacidade para 2000 pessoas.

No ano de 1989, os mesmos donos da "UP & DOWN" convidaram "DOM LULA" para inaugurar a "HIPPODROMUS", outra casa que causou furor nas noites de Sampa. Em 1990, foi novamente convidado pelo mesmo grupo para inaugurar o "KREMLIN". Uma casa voltada para um público elitizado, na faixa etária de 25 a 45 anos. Público este que "DOM LULA" cativou com toda a sua experiência e conhecimento em FLASH BACK. Ficou no Kremlin por 12 anos consecutivos até 2002. Em Agosto do ano de 2003 foi convidado para fazer as noites de FLASH BACK.

Em 19 de novembro de 2003 fez a reinauguração da famosa casa LIMELIGHT e fazia parceria com a rádio ANTENA 1 nas noites de Flash Back intituladas GOLDEN NIGHTS. Lá permaneceu como DJ residente até setembro de 2005. Manteve residência na BOOGIE DISCO, em SP nos últimos anos, e mais recentemente tocava no Café Photo no bairro do Itaim também em São Paulo.

Exímio DJ, mantinha a técnica de mixagens bem elaboradas, longas, concebida desde o início da carreira nos áureos tempos da Disco Music. Se especializou nas festas do gênero Flash Back e era, claro, muito respeitado entre os DJs por sua história e dedicação pela música nas pistas de dança.

Fonte: Gringos CDS

Papo Furado - Isaura Garcia e Noite Ilustrada (1970)

Nascida em 26 de fevereiro de 1919, Isaura Garcia, paulistana do Brás, começou cedo. Aos treze anos foi tentar a sorte no programa a hora da peneira, da rádio cultura, mas foi eliminada. Tentou novamente no ano seguinte na Record, onde foi classificada em primeiro lugar, foi contratada e acabou se tornando uma das grandes estrelas da era de ouro do rádio. em 1953, chegou a ser eleita rainha do Rádio Paulista.

Mário de Souza Marques Filho, nascido em 10 de abril de 1928, começou sua carreira como violonista num show em Além Paraíba, MG. O apresentador esqueceu seu nome na hora da apresentação e, vendo que o músico levava no bolso da calça um exemplar da revista "noite ilustrada", não pestanejou: "e agora com vocês a grande revelação... noite ilustrada!", e assim pegou o apelido com o qual ficou conhecida uma das mais belas vozes do nosso samba.

O álbum foi produzido por Hermínio Belo de Carvalho, e traz uma variedade de compositores da melhor estirpe do cancioneiro tupiniquim. Tudo distribuído de forma descontraída, em pout-pourries muito bem estruturados e arranjados. O bolachão vale a pena. Baixe aqui e ouça em sua "vitrolinha digital".


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[Papo Furado - Vinil]

Índio quer Chopin, se não der...

Mussapere e Herundi são os nomes indígenas de Natalício e Antenor Lima (o sobrenome Lima foi adotado em reverência ao tenente Moreyra Lima). Ambos são índios da tribo dos Tabajaras, que falavam apenas Tupi e aprenderam português apenas a partir dos 10 anos de idade. Natalício (também conhecido como Nato), Eles nasceram no interior do Ceará.

Os irmãos nunca haviam visto instrumentos de "homem branco" até que a primeira expedição militar chegou ao acampamento da tribo e o primeiro instrumento que eles ouviram foi a corneta tocada por um dos soldados. Depois que o exército seguiu adiante, eles decidiram deixar a tribo e seguir viagem pelo país, primeiro indo até Fortaleza a pé. Eles continuaram a caminhada, parando em muitos lugares até chegarem ao Rio de Janeiro (um total de aproximadamente 2,700km, que eles levaram mais de 3 anos para completar). Foi durante essa longa viagem que eles primeiro pegaram num violão e começaram a aprender o básico do instrumento.

Uma vez chegando ao Rio de Janeiro, eles começaram a tocar violão e cantar músicas indígenas nas ruas da cidade e conseguiram sobreviver decentemente com essa atividade, chegando até mesmo a comprar uma casa. Na medida em que foram ficando conhecidos, eles começaram a tocar no rádio, o que os teria levado ao Chile, onde ouviram música clássica pela primeira vez. Eles se apaixonaram pela música de Chopin e decidiram aprender a ler partitura e transcrever peças para o violão.

Musicalmente falando, é muito difícil encontrar uma explicação para os Tabajaras. Eles são auto-didatas, com uma velocidade e precisão impressionantes. Nato Lima aprendeu a tocar de palheta e de dedos, mas no final misturou ambos, ele tinha uma pequena palheta amarrada ao polegar e conseguia alternar ambos os estilos de maneira extremamente eficiente. Em 1953, os irmãos chegaram aos EUA e acabaram sendo contratados pela RCA Victor através de um amigo que eles encontraram acidentalmente em Nova Iorque quando estavam brincando de arremessar bolas de neve um contra o outro.

Nos EUA, os Tabajaras não chamaram muito a atenção logo no início. O fator "exotismo" acabou se revelando importante no desenvolvimento de suas carreiras e assim que eles começaram a aparecer na TV, eles se tornaram um sucesso retumbante, vendendo milhões de LP's que misturavam uma variedade de estilos como jazz, bossa nova, clássico, bolero, e também música folclórica. Eles também se aventuraram a cantar em inglês, espanhol e português. E aí está o vinil que traz o duo executando peças clássicas, impressionante! E de lambuja, o programa "Violão", idealizado e apresentado por Fábio Zanon (Cultura FM SP), que traz uma rara e preciosa entrevista com Nato Lima.


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[Índio Tabajaras - Vinil] - [Programa Violão - Cultura FM]

Cinco na Bossa - Nara Leão & Edu Lobo & Tamba Trio (1965)

Lançado pela Philips, esse é o tipo do disco que carece de parangolés. Nara e Edu em começo de carreira, acompanhados do Tamba Trio, sem comentários, só ouvindo e regozijando-se.

1- Carcará ( José Cândido, João do Vale )
2- Reza ( Ruy Guerra, Edu Lobo )
3- O trem atrasou ( Paquito, Vilarinho, Estanislau Silva )
4- Zambi ( Edu Lobo, Vinicius de Moraes )
5- Consolação ( Baden Powell, Vinicius de Moraes )
6- Aleluia ( Ruy Guerra, Edu Lobo )
7- Cicatriz ( Zé Keti, Hermínio Bello de Carvalho )
8- Estatuinha ( Gianfrancesco Guarnieri , Edu Lobo )
9- Minha história ( Raymundo Evangelista, João do Vale )
10- O morro não tem vez ( Tom Jobim, Vinicius de Moraes )


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[Cinco na Bossa - Vinil]

14 de setembro de 2010

[Mitos Fritos] Nem Tanto ao Mar Nem Tanto ao Beat

O Afrobeat é um estilo africano de tocar e compor, surgido na Nigéria na segunda metade dos anos 60, atribuido por alguns a Orlando Julius, e pela maioria a Fela Cuti, pois bem, o que verdadeiramente nos interessa, não é como, quando e onde, mas o porquê do exagero de alguns melômanos em colocar o Afrobeat como uma espécie de "fenômeno transcendental", o "fillet mignon" da música africana. Muita calma nessa hora! Vamos analisar sem paixões a estética do badalado estilo de Fela e sua turma.

É notória a influência do Soul/Funk, Jazz, Highlife e logicamente da música Iorubá e africana em geral no estilo Afrobeat, porém se prestarmos o mínimo necessário de atenção, veremos, ou melhor, ouviremos o grande "fosso" que há entre influenciadores e influenciados, principalmente no aspecto harmônico, nesse caso não a harmonia que trata da progressão e encadeamento de acordes, mas, aquela que abrange o conjunto da obra. Se eu tivesse que encontrar um termo para definir com exatidão a estética do Afrobeat, seria: "desconjuntada", não precisamos
ir muito fundo nem muito longe, basta ouvirmos os metais em qualquer canção do Godfather of Soul (James Brown) e traçar o paralelo.

O som dos vovôs nigerianos é uma massa sonora não sensibilizante e extremamente repetitiva, e creio que a maior importância do movimento está no conteúdo político/social de suas letras. É bom que se diga que o Afrobeat produziu bons músicos, como o batera Tony Allen, por exemplo; e antes que alguém diga ou pense que aqui existe algum tipo de preconceito com a música africana, posso dizer que figuram em minhas estantes e em meu coração belos artistas da Mãe África, como: Mirian Makeba, Duo Ouro Negro, Lokua Kanza, Ladysmith Black Mambazo, Cesária évora, Ali Farka Touré, Africando, Johnny Clegg, Hug Masekela, King Bruce, Celestine Ukawu, Haruna Ishola e muitos outros. Dois detalhes interessantes merecem registro: Muitos musicos de jazz e Soul têm sido atraídos para o Afrobeat. Desde Roy Ayers nos anos setenta a Randy Weston nos anos noventa, esse interesse resultou em álbuns como África: Centre of the World de Roy Ayers, produzido pela Polydor em 1981. Em 1994 Branford Marsalis , saxofonista de jazz, incluiu amostras de Fela "Beast of No Nation" no seu álbum "Buckshot le Fonque".

O outro detalhe é que alguns DJ's da nova geração dos anos 2000, se apaixonaram tanto pelo material de Kuti e outros raros lançamentos, que fizeram compilações e remixes dessas gravações, dando uma nova onda ao estilo. O curioso é que nos dois casos o Afrobeat se torna bem mais "digerível". Meu amigo Rúbero Ezequias (catedrático de Berklee Jabour) quando interrogado sobre o estilo falou: "prefiro os atabaques altaneiros que acompanham melódicos pontos, em nossos terreiros de Umbanda".

Por Mario Medella