14 de setembro de 2010

[Mitos Fritos] Nem Tanto ao Mar Nem Tanto ao Beat

O Afrobeat é um estilo africano de tocar e compor, surgido na Nigéria na segunda metade dos anos 60, atribuido por alguns a Orlando Julius, e pela maioria a Fela Cuti, pois bem, o que verdadeiramente nos interessa, não é como, quando e onde, mas o porquê do exagero de alguns melômanos em colocar o Afrobeat como uma espécie de "fenômeno transcendental", o "fillet mignon" da música africana. Muita calma nessa hora! Vamos analisar sem paixões a estética do badalado estilo de Fela e sua turma.

É notória a influência do Soul/Funk, Jazz, Highlife e logicamente da música Iorubá e africana em geral no estilo Afrobeat, porém se prestarmos o mínimo necessário de atenção, veremos, ou melhor, ouviremos o grande "fosso" que há entre influenciadores e influenciados, principalmente no aspecto harmônico, nesse caso não a harmonia que trata da progressão e encadeamento de acordes, mas, aquela que abrange o conjunto da obra. Se eu tivesse que encontrar um termo para definir com exatidão a estética do Afrobeat, seria: "desconjuntada", não precisamos
ir muito fundo nem muito longe, basta ouvirmos os metais em qualquer canção do Godfather of Soul (James Brown) e traçar o paralelo.

O som dos vovôs nigerianos é uma massa sonora não sensibilizante e extremamente repetitiva, e creio que a maior importância do movimento está no conteúdo político/social de suas letras. É bom que se diga que o Afrobeat produziu bons músicos, como o batera Tony Allen, por exemplo; e antes que alguém diga ou pense que aqui existe algum tipo de preconceito com a música africana, posso dizer que figuram em minhas estantes e em meu coração belos artistas da Mãe África, como: Mirian Makeba, Duo Ouro Negro, Lokua Kanza, Ladysmith Black Mambazo, Cesária évora, Ali Farka Touré, Africando, Johnny Clegg, Hug Masekela, King Bruce, Celestine Ukawu, Haruna Ishola e muitos outros. Dois detalhes interessantes merecem registro: Muitos musicos de jazz e Soul têm sido atraídos para o Afrobeat. Desde Roy Ayers nos anos setenta a Randy Weston nos anos noventa, esse interesse resultou em álbuns como África: Centre of the World de Roy Ayers, produzido pela Polydor em 1981. Em 1994 Branford Marsalis , saxofonista de jazz, incluiu amostras de Fela "Beast of No Nation" no seu álbum "Buckshot le Fonque".

O outro detalhe é que alguns DJ's da nova geração dos anos 2000, se apaixonaram tanto pelo material de Kuti e outros raros lançamentos, que fizeram compilações e remixes dessas gravações, dando uma nova onda ao estilo. O curioso é que nos dois casos o Afrobeat se torna bem mais "digerível". Meu amigo Rúbero Ezequias (catedrático de Berklee Jabour) quando interrogado sobre o estilo falou: "prefiro os atabaques altaneiros que acompanham melódicos pontos, em nossos terreiros de Umbanda".

Por Mario Medella

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