postado em agosto de 2011
RELATÓRIO BACK2BLACK RJ (primeiro dia)
Na noite de sexta-feira (29), a Estação Leopoldina escolheu roupa de gala para o primeiro dia do Back2Black Festival . Ao adentrar na estação desativada, você logo dá de cara com uma série de retratos lindos, ampliados em tamanho giga feitos pelo Lost.art. Passadas as catracas, o impacto dos milhares de balões coloridos impactavam quem voltasse os olhos para o alto - trabalho da renomada dupla de street art, Os Gêmeos.
E a hora era de fazer a volta de reconhecimento. Na plataforma de embarque, os antigos trens se transformaram em obras de arte a céu aberto, inteiramente grafitadas. Eles estavam acompanhados, espertamente, por lugares para sentar e descansar as pernas, além de barraquinhas para matar a fome com um acarajé, um crepe ou um cachorro quente.
Um dos vagões ganhou espelhos em toda sua extensão. O do meio, uma livraria que também vendia CDs e vinis dos grandes artistas negros e o último, um estúdio animadíssimo, cheio de gente querendo mostrar seus talentos musicais. À frente, alguns outros vagões viraram bilheterias, integrando todo o complexo Back2Black 2011.
Do lado esquerdo, o Palco Compacto Petrobrás só era compacto no tamanho: a animação foi enorme e o pessoal, mesmo com a garoa fina que ia e voltava, dançou juntinho as músicas da Tono. O xaxado elegante de Nicolas Krassik e os Cordestinos também foi motivo para o requebrar de quem estava presente.
O Back2Black também é lugar de bate-papo bacana e assim foi a conversa com Wael Ghonim, direto de Dubai, em transmissão via satélite. Wael ficou conhecido depois de criar a página "We are All Khaled Said" (Todos nós somos Khaled Said). O motivo veio após saber que Khaled Said, um jovem como ele, havia sido morto pela polícia de Alexandria.
Os desdobramentos da reação do governo ao criador da página no Facebook, e a ela em si, além das manifestações organizadas a partir das redes sociais, culminaram na derrubada do regime de Hosni Mubarak, no Egito. Quem também esteve na conversa foi Jamila Raqib, membro do Albert
Einstein Institute, que se preocupa em disseminar práticas de resistência não-violentas, uma das opções ao terrorismo.
Depois da conversa, quem veio ao palco direto de Portugal foi a fadista portuguesa Ana Moura, que emocionou os presentes com sua presença de palco sensual e voz fortíssima. Além de alguns de seus sucessos e versões inusitadas, como uma música dos Rollling Stones, Ana proporcionou generosos duetos com Gilberto Gil, em músicas como "Fado Tropical", "A Novidade" e "Sítio do Pica Pau Amarelo".
Na sequência, vieram os músicos do Tinariwen, uma banda da etnia Tuareg, nômade, que faz um som que é quase que só deles: o desert guitar. Eles já animaram festivais na Europa, considerados roqueiros e desembarcaram no Brasil para o Back2Black. Aqueles homens de turbante fazem um som surpreendente, energizante e dançante, do tipo que levanta múmia da
tumba.
E então veio ela, a grande atração da noite: Macy Gray. Com sua banda mais do que carismática - dava vontade de ficar amigo de todos eles - e super competente. A gente precisa falar sobre o surpreendente setlist? Toda vez que Macy Gray voltava para o palco, a impressão era de que
havia shows diferentes. Estavam presentes, claro, hits como "I Try", "Why Didn't You Call Me", "Kiss It", "Glad You're Here", "That Man", além de versões surpreendentes, e não menos competentes, como "Creep" (do Radiohead), "Groove is in the Heart", de Deee-Lite e até "Nothing Else Matters", do Metallica.
Quase como um recado da diva: "Durmam com esse barulho!". Pois dormimos e acordamos com vontade de mais Macy.