20 de novembro de 2010

Desabafo na base da indiferença sensível

Não me causa mais espanto, nem angústia, nem ira e muito menos compaixão, quando assisto de camarote a ascensão cega e desgovernada de músicos, cantores e compositores, que almejando alguma fama e algum dinheiro, passam por cima de valores e princípios que pregavam e diziam acreditar piamente, sem contar a "esclerose funcional" que é produzida de forma consciente para causar o absoluto esquecimento de coisas e pessoas que habitaram seus passados recentes.

Toda ascensão tem seu limite, quando chega ao ápice começa a traçar o caminho contrário (a queda). É assim com os impérios, com as religiões e até com a geografia do planeta, por que nós, pobres fazedores de arte, amantes da beleza e mortais por excelência, estaríamos fora dessa lei de fluxo e refluxo?

Logicamente estamos falando de artistas de real valor, e em momento algum questionando talento e qualidade, mas buscando uma simplificada abordagem psicológica sobre os egos inchados, quase sempre repletos de idéias, projetos, marketings e até canções, porém, completamente vazios de consciência. E quanto maior a vaidade, o orgulho e a ambição, "maior é o tombo do tonto afinal". Graças aos deuses existe o outro lado, artistas que vão calmamente em sua caminhada, construindo uma obra consistente e substancial, que mesmo depois do decreto de sua inexistência física, ficará por aí, ecoando pelas eras.

E é por essas e outras que padeço dessa benéfica "indiferença sensível", levando muito a sério o velho dito popular um tanto modificado: "o que os ouvidos não ouvem o coração não escuta", e por isso a indiferença é sensível, porque só atua sobre aquilo que chega através dos sentidos e jamais naquilo que esteja atrelado aos sentimentos mais sublimes.

Nessas horas tenho uma imensa saudade da postura do Cartola e de tantos outros que já estão compondo a sinfonia da eternidade, falo isso sem nenhum tipo de "hipocrisia saudosista", mesmo porque, isto é um problema crônico do nosso "eguinho", com as devidas graduações, alguns se deslumbram com facilidade, outros são mais resistentes e consequentemente muito mais conscientes. Chego até a acreditar que a tão falada globalização tem influenciado de forma negativa alguns jovens talentos que já conseguiram umas poucas migalhas do disputado sucesso e se consideram o supra-ultra-hiper-mega qualquer coisa.

É como diz meu filho filósofo "Dante Picante": "quem não tem Flix não entra em Plax".


Por Mario Medella

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