27 de agosto de 2010

[Dicas do Melômano] A Tábua de Esmeralda - Jorge Ben (1974)


Psicodelia sóbria
Nem a heroína dos jazzistas, nem o ácido dos psicodélicos tampouco a ganja dos estúdios jamaicanos: foi com a cara limpa e doses cavalares de misticismo do bom que se conceberam as maiores obras-primas do samba-soul/samba-funk, especialmente o iluminado “A Tábua de Esmeralda”. Como a outra pedra preciosa do período, “Tim Maia Racional I e II” , “Tábua” foi inspirado em uma crença pouco ortodoxa – a Alquimia, no caso –, e baseada em um livro (“A Tábua Esmeraldina”, um dos muitos atribuídos a Hermes Trismegisto, autoridade máxima entre alquimistas).


Não se sabe ao certo o porquê de Jorge (ou Tim) ter se aventurado por
caminhos tão inesperados, mas o fato é que a viagem, enquanto não teve
volta, lhe rendeu a mais forte inspiração de sua incrível primeira fase
acústica. Dissolvido entre cordas e canções de amor, esse ingrediente místico fez ebulir um samba do crioulo doido irresistível,
no qual nenhuma faixa escapa. Todas são fantásticas.


O delírio de Jorge foi essencial para a excelência do disco mas o
vapor não subiria tão alto não fosse sua conhecida despretensão ao
compor – vomitando versos para só depois saber para onde eles iriam – e
incrível intuição rítmica. Uma fórmula mortal de grooves jorrou do
cadinho do Babulina para além do sambalanço e samba-rock que ele já
tinha inventado e novas formas de suingar foram criadas. Só mesmo as pessoas de
temperamento sórdido não dançaram.
por Daniel Setti


O fato de eu ter escrito um breve artigo na coluna "Mitos Fritos", não
significa que eu repudie a obra do Ben, tanto que acabo de postar este
disco histórico e antológico na coluna "Dicas do Melômano".
Tive essa vontade quando me deparei com as palavras do Daniel no bom
site do Radiola Urbana, me dirigi a uma das 27 estantes do cafofo,
peguei o vinilão e simplesmente ouvi, e aqui está o post.
Vale a pena repetir que a "Mitos Fritos", não foi criada para
desvalorizar a obra de quem quer que seja, nem para "esculachar"ninguém,
muito menos para servrvir de trampolim, onde eu atire aos tubarões da
infâmia, todos os artistas que por essa ou aquela razão não se afinem
com meu pobre gosto personal, ou ainda "fritar" de maneira inconsequente
o trabalho de toda uma existência.



Por Mario Medella

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