9 de agosto de 2010

Reconhecido, mas nem tanto

Alfredo José da Silva, o grande Johnny Alf, nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 19 de Maio de 1929. Seu pai, cabo do Exercito, morreu em 1932 e a mãe foi trabalhar na casa de uma família na Tijuca, que o criou e custeou seus estudos. Começou a aprender piano clássico aos nove anos, com Geni Borges, amiga da família, logo demonstrando interesse por compositores do cinema norte-americano, como George Gershwin e Cole Porter. Pelos 14 anos, formou um conjunto com amigos em Vila Isabel, indo tocar nos fins de semana na Praça Sete, do Andaraí. Cursou até o segundo ano do Colégio Pedro II, onde entrou em contato com o pessoal do Instituto Brasil-Estados Unidos, que o convidou para participar de um grupo artístico.

Por sugestão de uma amiga norte-americana, adotou o pseudônimo de Johnny Alf, quando de sua apresentação no programa de jazz de Paulo Santos, na Radio MEC Trabalhou no escritório de contabilidade da Estrada de Ferro Leopoldina, onde aproveitava os momentos livres no horário de serviço para escrever música. Com o grupo do Instituto Brasil-Estados Unidos fundou um clube para promoção e intercâmbio de musica brasileira e norte-americana, que realizava sessões semanais para analisar orquestrações, solos etc., alem de apresentar filmes, shows, concertos de jazz, entre outras atividades.

Quando Dick Farney, já profissional e recém-chegado dos EUA, ingressou no grupo em 1949, o clube passou a chamar-se Sinatra-Farney Fan Club, tendo entre seus sócios Tom Jobim, Nora Ney e Luís Bonfá, entre outros, ainda principiantes. Na época, tocava durante a noite no clube e pela manha assumia seu posto de cabo no Exercito. Através de Dick Farney e Nora Ney foi contratado em 1952 como pianista da recém-inaugurada Cantina do César, de propriedade do radialista e apresentador César de Alencar, dando inicio a sua carreira profissional. Ali a atriz Mary Gonçalves, que tinha sido Rainha do Radio em 1952 e ia lançar-se como cantora, escolheu três composições suas, Estamos sós, O que é amar e Escuta para incluir no seu LP Convite ao romance. Em seguida foi convidado para integrar como pianista o conjunto que o violonista Fafá Lemos formou para tocar na boate Monte Carlo. Nessa época, a convite do produtor Ramalho Neto, gravou na Sinter seu primeiro disco, um 78 rpm com musica instrumental (piano, contrabaixo e violão) de influencia jazzística, com Falsete, de sua autoria, e De cigarro em cigarro (de Luís Bonfá). Mais tarde, revezando-se com o pianista Newton Mendonça, tocou na boate Mandarim, indo depois para o Clube da Chave, boates Drink e Plaza. De seu repertório, duas composições começaram a se destacar, Céu e mar e Rapaz de bem, esta escrita por volta de 1953 e considerada, em termos melódicos e harmônicos, como musica revolucionaria e precursora da bossa nova. Em 1955 foi para São Paulo SP, onde tocou na boate Baiuca e no bar Michel, neste ultimo com os então iniciantes Paulinho Nogueira, Sabá e Luís Chaves. De passagem pelo Rio de Janeiro, no mesmo ano gravou na Copacabana o primeiro 78 rpm importante de sua carreira, com Rapaz de bem e O tempo e o vento, também de sua autoria. Seis anos depois gravou na RCA seu primeiro LP, Rapaz de bem, que incluía, entre outras, Ilusão à toa, que também se tornou um grande êxito. Ainda em 1961, recebeu convite do compositor Chico Feitosa para tocar no Carnegie Hall, em New York, EUA, mas não viajou, permanecendo em São Paulo. No ano seguinte, retornou ao Rio de Janeiro, tocando no Bottle’s Bar, na mesma época em que ali atuavam o Tamba Trio, Sérgio Mendes, Luís Carlos Vinhas e Silvia Teles. Formou também um conjunto com o baixista Tião Neto e o baterista Edison Machado, apresentando-se no Little Club e Top Club.

A partir de 1965 realizou varias apresentações no interior de São Paulo. Foi também professor de musica do Conservatório Meireles, de São Paulo. Em 1967 participou do III FMPB, da TV Record, de São Paulo, com a musica Eu e a brisa, interpretada pela cantora Márcia. A composição foi desclassificada nas eliminatórias, convertendo-se porém, um mês depois, num dos maiores sucessos de sua carreira. Em seus últimos anos de vida Johnny raramente se apresentava, em razão de problemas de saúde. Esteve apenas na abertura das exposições dedicadas aos 50 anos da bossa nova na Oca , em 2008, [2] e, em janeiro de 2009 , no Auditório do SESC Vila Mariana, em São Paulo. [3] [4] Na mostra sobre os 50 anos da bossa nova, Alf teve um encontro virtual com nomes como Tom Jobim , Frank Sinatra , Ella Fitzgerald e Stan Getz . O artista tocava piano com as projeções dos colegas, já mortos, para um filme que foi exibido ao longo do evento. Segundo o curador da mostra, Marcello Dantas, Johnny Alf foi "o caso clássico do artista que não teve o reconhecimento a altura de seu talento. Alf foi um gênio e teve participação na história da nossa música".

O compositor não tinha parentes. Vivia em um asilo em Santo André. Seu último show foi em agosto de 2009, no Teatro do Sesi , em São Paulo, ao lado da cantora Alaíde Costa. Faleceu aos 80 anos no hospital estadual Mário Covas, em Santo André (SP),em 4 de março de 2010. Segundo o jornalista Ruy Castro , Johnny Alf foi o "verdadeiro pai da Bossa Nova ". Tom Jobim, outro dos primeiros artistas da Bossa Nova, admirava Johnny Alf a ponto de apelidá-lo de "Genialf".

* 1952 - Johnny Alf
* 1952 - Convite ao Romance - Mary Gonçalves
* 1954 - Johnny Alf (78 rpm)
* 1955 - Johnny Alf (78 rpm)
* 1958 - Johnny Alf (78 rpm)
* 1961 - Rapaz de bem ( longplay )
* 1964 - Diagonal (Lp)
* 1965 - Johnny Alf - arranjos de José Briamonte
* 1968 - Johnny Alf e Sexteto Contraponto
* 1971 - Ele é Johnny Alf
* 1972 - Johnny Alf - compacto duplo
* 1974 - Nós
* 1978 - Desbunde total
* 1986 - Johnny Alf - Eu e a brisa
* 1988 - O que é amar
* 1990 - Olhos Negros - participação Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Roberto Menescal, Leny Andrade e outros.
* 1997 - Johnny Alf e Leandro Braga - Letra e música Noel Rosa
* 1998 - Cult Alf - Johnny Alf - gravado ao vivo
* 1999 - As sete palavras de Cristo na Cruz - Dom Pedro Casaldáliga
* 2001 - Johnny Alf - Eu e a Bossa - 40 anos de Bossa Nova
* 1975 - 100 anos de Música Popular Brasileira - Projeto Minerva - série de oito álbuns produzidos e apresentados por Ricardo Cravo Albin, gravados ao vivo na rádio MEC do Rio de Janeiro. Cantando ao lado de Alaíde Costa e Lúcio Alves.
* 1984 - Trilha sonora da telenovela Anjo Mau , da Rede Globo, com a música O que é amar.
* 1998 - O show Noel Rosa - Letra e música, lançando um compact disc com o mesmo nome, foi realizado no Sesc Pompéia, em São Paulo. Incluindo a canção Noel, Rosa do Samba, de Paulo César Pinheiro.
* 2004 - CD Dois Corações, da cantora mineira Fernanda Cunha. No Cd os "dois corações" são Johnny Alf e Sueli Costa, uma das mais importantes compositoras brasileiras, que também faz participação especial com piano e voz.

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