5 de agosto de 2010

[Mitos Fritos] Botando o pingo nos "is" e "j's"

Vamos nos remeter ao dourado ano de 1958, mais precisamente ao disco "Canção do Amor Demais" de Elizeth Cardoso, lançado pelo pequeno selo Festa, onde nas faixas "Chega de Saudade" e "Outra Vez", ambas de Tom e Vinicius, como todas as demais canções do disco, ouvia-se pela primeira vez em gravação o violão de João Gilberto, e é justamente aí que reside o ponto nevrálgico deste modesto artigo. Qual foi o real papel e a importância do nosso bom baiano no contexto da Bossa Nova e consequentemente na história da MPB?

1) A introdução de encadeamentos dissonantes (harmonia do Jazz) na estrutura harmônica da composição nacional?
R: Não. Músicos como Johnny Alf, Dick Farney, o próprio Tom Jobim e vários artistas de menos expressão já o faziam desde os primeiros anos da década de 50. Utilizando o "two five" e outros tantos recursos e mumunhas da chamada harmonia funcional.

2) O rompimento com o chamado "vozeirão", "dó de peito", a empostação herdada do canto lírico que imperou na MPB na primeira metade do século XX?
R: Não. Noel Rosa, que não tinha lá muita voz, já gravava com seu pouco material vocal algumas de suas geniais canções nos anos 30. Para chegar mais próximo da discussão em questão temos o próprio Dick e Lúcio Alves, que com seus timbres graves, cantavam de forma aveludada e malemolente, isso para não falar em Mario Reis, que é considerado por muitos o precursor do jeito "bossa nova" de cantar.

3) A criação da "batida diferente", através de uma variação da síncope, tendo como base o ritmo do samba e influenciando toda uma geração de músicos?
R: Apesar da maldosa especulação de alguns músicos berimbolantes, de que o chamado "violão gago", decorreu de uma deficiência técnica da mão direita do músico, não acertando de forma alguma a tradicional síncope do samba. esse mérito ninguém jamais tirará do baiano, João tornou-se o símbolo vivo da Bossa Nova, criando o ritmo propriamente dito e como dizia um amigo em comum que tivemos: "o Joãozinho não canta, conta segredos".

4) A BN aconteceria sem ele?
R: Certamente sim, porém sem algumas características marcantes e marcadas, que formam a lírica trajetória do gênero mais difundido no mundo depois do Jazz e do Rock. Mas é sempre bom lembrar que a grande cabeça pensante, musicalmente falando, da Bossa Nova, foi Antônio Carlos Jobim. João Gilberto jamais perderá sua real importância na história do cancioneiro popular do Brasil, a única coisa que não concordamos é com o discurso exacerbado e pegajoso, como se o nosso bom baiano fosse o Jimmy Hendrix da Bossa Nova.

Como dizia meu velho amigo Rúbero Ezequias (catedrático de Berklee Jabour): "O grande problema do Joãozinho é a monotonia, vai muito bem até a terceira faixa."


Por Mario Medella

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