3 de agosto de 2010

O som além das fronteiras do conhecimento musical



Apenas recentemente a capacidade da música de influenciar estados mentais e físicos começou a ser abordada através de pesquisas avançadas (ondas alpha e theta, medicina psicossomática, etc .) pela ciência moderna. Não é nenhuma surpresa a constatação de que não apenas a música mas o som em geral tem o poder de influenciar de forma neutra, maléfica ou benéfica, a natureza emocional, mental, física e espiritual do ser.

Já os antigos sábios da India desenvolveram um profundo conhecimento acerca da natureza do som e de sua relação com todos os níveis da vida. Suas descobertas mais importantes foram a de que o som (a vibração) é a essência do Universo, e que compreender o som é o caminho para a liberação.

Os antigos egípcios também não ignoravam o poder da música, e a utilizavam com fins ritualísticos e curativos. Na Grécia, o grande Pitágoras relacionava acertadamente a ciência dos números com a música, o que resultou também no desenvolvimento de escalas musicais (os chamados Modos Gregos) baseadas em sensações provocadas por relações matemáticas entre as diferentes notas musicais do sistema de notações que até hoje é o estabelecido no Ocidente.

A Metamúsica em si é a descrita por Guillermo Cazenave, que é musico, compositor e pioneiro da Metamusica com sua série “Zodiac Music”, como “A área da Musicologia que estuda os sons e vibrações para a criação de temas musicais com fins de que os músicos-praticantes possam ter experiências extra-corpóreas por intermédio musical”.

Atualmente o estudo de construções harmônicas específicas, timbres, pesquisas com equipamento eletrônico e o resultado de experiências pessoais de músicos e pesquisadores no campo da espiritualidade têm traçado os contornos dos avanços do conhecimento acerca da experiência sensorial (musical e também visual).

O que podemos chamar de “ruídos residentes” e “sons significantes” passam a ser introduzidos nas formas de arte anteriores à era elétrica & eletrônica, tendo suas qualidades musicais ou extra-musicais reconhecidas como parte da formação da imagem sonora.

No início do século XX, surgiu na França o “Bruitismo”(Bruit = Barulho) movimento no qual os compositores passaram a fazer experimentações com os instrumentos gerando ruídos incomuns, o que teve continuidade na chamada musica concreta e no experimentalismo que guiou trabalho também de grandes nomes da musica mundial, tendo entre eles Igor Stravinsky que foi reconhecido mundialmente por ter ido além das ditas “regras” de composição clássicas em seus arranjos, que tinham grande impacto rítmico e visual e foram principal fonte de inspiração para compositores de trilhas sonoras para cinema que surgiram desde então, e também Hermeto Pascoal, que, além de utilizar instrumentos e sons inusitados como panelas e brinquedos de borracha para fazer música, chegou a gravar um disco com os animais do seu sítio respondendo à execução de instrumentos musicais.

Hoje em dia a composição baseada na construção de timbres abstratos e texturas sonoras incomuns é bastante difundida através do trabalho de Produtores e Djs que divulgam a música associada à pratica da dança, que em muitas culturas antigas era, e ainda é, considerada sagrada pelos benefícios que propicia ao corpo e pelo prazer que proporciona à mente.

A Musicoterapia e outros ramos da Musicosofia (ligação da Música com a Medicina e Filosofia) como a Musico-Embriologia (psicoterapia musical para gestantes) e a própria Metamúsica abordam a ciência do som de uma forma consciente e aberta. Foi constatado que a música influencia diretamente aspectos do corpo humano como o ritmo cardíaco, pressão arterial, secreção do suco gástrico, equilíbrio térmico, o metabolismo geral, o impacto dos estímulos sensoriais, a memória e outros órgãos internos e funções psíquicas.

Com a tecnologia atual é possivel harmonizar sons da natureza com texturas abstratas, instrumentos acústicos e formatos rítmicos tradicionais ou ritmos étnicos inusitados. Esta visão propicia a comunicação cultural para além das fronteiras entre etnias e a dissolução de preconceitos estilísticos.

É comum encontrar entre os compositores empenhados nesta busca hoje em dia relatos sobre o estado de consciência que alcançam durante seu processo criativo, e que isto, aliado à intenção positiva depositada em sua música, é responsável pela reprodução do que chamam de ambientes paradisíacos ou dimensões celestes para os quais são transportados mental e emocionalmente através de sua experiência sonora e transmitidos para o ouvinte, de acordo com a receptividade do mesmo.

É dito que experimentar a música conscientemente conduz ao sentimento reconfortante e alentador da presença de influências superiores, pois é como uma infinita fonte de energia.Como se na Música houvesse escondida uma espécie de sabedoria peculiar. O filósofo Kant, uma vez, em uma carta a um amigo disse: “Quando escuto um Coral de Igreja, me dá uma serenidade que minha filosofia não me dá”.

Esta habilidade de observar forças espirituais subjacentes à música é a arte de escutá-la e entendê-la, que realmente nos faz falta. Neste contexto, a Metamúsica, a Musicosofia, a Espiritualidade e a Ciência reunidas parecem nos mostrar que o que há entre o Céu e a Terra é realmente apenas o limite do sonho de uma vã Filosofia.


Por Rafa Sun
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